quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Cruzeiro do Sul descoberto pelos portugueses

 

Com conhecimentos em astronomia, o piloto judeu espanhol João Faras conhecido como Mestre João da frota de Pedro Álvares Cabral calculou as coordenadas do Cruzeiro do Sul (que no texto é designado como Crux) e, segundo o astrônomo do século XIX Amedee Guillemin, o Mestre João teria observado o cometa Astone conhecido na Itália como “il Signor Astone” “A Grande Haste” em 12 de maio de 1500 logo depois da descoberta do Brasil. Existe menção do mesmo cometa na Europa e China.[1] Em um dos trechos da carta de Mestre João, descoberta em 1843 pelo historiador Francisco Adolfo de Varnhagen e escrita na atual Baía Cabrália, onde o astrônomo realizou os primeiros estudos astronômicos no Brasil, ele descreve a constelação do Cruzeiro do Sul conhecida desde a Grécia Antiga, e sugere ao rei que peça um mapa onde veria a localização das terras onde eles estavam, o que faria crer que os portugueses já conheciam o território brasileiro. Já denominado como Cruzeiro do Sul a constelação é descrita no Tratado da Agulha de marear de João de Lisboa de 1514 que se encontra no Livro da Marinharia.[2] Em 1455 o navegador veneziano em Alvise Cadamosto registrou o que chamou de carro dell’ostro (“carruagem do sul”) possivelmente se referindo ao Cruzeiro do Sul ainda que sua descrição seja imprecisa. A descrição do Mestre João em 1500 é considerada a primeira representação correta feita por um europeu. O Cruzeiro do Sul está catalogado no Almagesto de Ptolomeu na constelação de Centauro, porém foi ignorado por séculos. A notificação de mestre João difundiu-se especialmente após o médico e astrônomo Jean Bayer a ter incluído na célebre obra Uranometrie publicada em 1604.[3] O piloto português João de Lisboa fez observações repetidas do Cruzeiro do Sul em sua viagem a Índia com Pero Anes. O florentino Andrea Corsali em carta de Cochim na Índia ao duque Julião de Médicis se 1515 se refere à “croce maravigliosa”. Americo Vespucio em carta de 18 de julho de 1500 se refere ao movimento lento de quatro estrelas, que, portanto, não corresponde ao Cruzeiro do Sul. A origem portuguesa do Cruzeiro do Sul é cantada em versos de Camões: “Já descoberto tínhamos diante. Lá no novo hemisfério, nova estrela. Não vista de outra gente, que ignorante. Alguns tempos esteve incerta dela”. Pedro Nunes no Tratado em defensam da carta de marear descreve que “os portugueses ousaram cometer o grande mar Oceano. Entraram por ele sem nenhum receio. Descobriram novas ilhas, novas terras, novos mares, novos povos e, o que mais é: novo ceu, novas estrelas”.

[1]MOURÃO, Ronaldo Freitas. Dicionário Enciclopédico de astronomia e astronáutica, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987, p. 133

[2]VASCONCELLOS, Ernesto; GAMEIRO, Alfredo; MALHEIROS, Carlos. In: História da Colonização Portuguesa no Brasil, Edição Monumental Comemorativa do Centenário de Independência do Brasil, Porto, Litografia Nacional, 1921, Capítulo 2: A arte de navegar dos portugueses, p. 68

[3]MOURÃO, Ronaldo Freitas. Dicionário Enciclopédico de astronomia e astronáutica, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987, p. 213




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