Na época da invasão holandesa (1624-1654) a Coroa Portuguesa sem opção permitiu o comércio direto de traficantes brasileiros com angolanos, usando como moeda de troca produtos produzidos localmente como aguardente, tabaco e búzios, rompendo desta forma o fluxo de comércio triangular que predominava até então. Navios saíam de Portugal em direção a África carregados de produtos para pagamento dos escravos. Depois eram carregados de escravos e aproveitavam os ventos favoráveis para sair da costa africana no Guiné e Benin em direção ao nordeste brasileiro (ao quais Antonio Vieira acreditarem serem resultado da providência divina em libertar os cativos do paganismo para o cristianismo) [1] e retornavam para Europa carregados de açúcar. [2] Segundo Manolo Fiorentino a cachaça era um dos produtos mais valorizados na troca de escravos com Angola.[3] Uma ordem régia de 1649 já proibira a venda de cachaça, no entanto a medida de difícil implementação a ponto do padre Vieira em 1662 denunciar que toda a cachaça produzida já estava vendida antes mesmo de sair dos alambiques.[4] Em 1659 em nova proibição as disposições régias previam que se o fabricante clandestino de aguardente fosse “homem de qualidade” seria condenado a seis meses de prisão além de multa de cem cruzados, se fosse escravo seria açoitado nas ruas [5]. Em 1660 um aumento na tarifação da cachaça levou a uma revolta popular liderada por Jerônimo Barbalho Bezerra, quando Salvador Correi de Sá era governador do Rio de Janeiro [6]. A partir do século XVIII os portugueses cuidavam o comércio europeu, enquanto que os brasileiros ficavam com o comércio com a África, de modo que os traficantes brasileiros tornaram-se cada vez mais poderosos, com fortunas maiores do que muitos fazendeiros e mineradores, além de promoverem a produção local de produtos e um comércio interno [7]. Em 1743 a Coroa através de uma Ordem do conselho Ultramarino proibira a produção de cachaça em Minas Gerais. Este mesmo dispositivo proibia a construção de engenhos de açúcar e aguardente, no entanto, depoimento do governador da capitania Antonio de Noronha de 1777 relata que a determinação vinha sendo burlada. [8] Em 1798 existiam 253 engenhos de aguardente no Rio de Janeiro.[9]
[1]GOMES, Laurentino.
Escravidão, v.I, São Paulo: Globo, 2019. p.215, 338
[2]GOMES, Laurentino.
Escravidão, v.I, São Paulo: Globo, 2019. p.99
[3]GOMES, Laurentino.
Escravidão, v.I, São Paulo: Globo, 2019. p.226
[4]ALENCASTRO, Luiz Felipe
de. O trato dos viventes, São Paulo:Cia das Letras, 2000, p. 317
[5]BRITO, José Gabriel
Lemos. Pontos de partida para a história econômica do Brasil. Brasiliana v.
155, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1980, p.68
[6]AQUINO,
Fernando, Gilberto, Hiran. Sociedade brasileira: uma história, São Paulo:
Record, 2000, p.293
[7]CALDEIRA, Jorge.
História do Brasil, São Paulo:Cia das Letras, 1997, p.78
[8]MENESES, José Newton.
Os alambiques, a técnica da produção da cachaça e seu comércio na América
portuguesa. In: BORGES, Maria Eliza. Inovações, coleções, museus. Belo
Horizonte: Autêntica Editora, 2011, p.141
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