segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Aguardente no Brasil Colonial

 

Na época da invasão holandesa (1624-1654) a Coroa Portuguesa sem opção permitiu o comércio direto de traficantes brasileiros com angolanos, usando como moeda de troca produtos produzidos localmente como aguardente, tabaco e búzios, rompendo desta forma o fluxo de comércio triangular que predominava até então. Navios saíam de Portugal em direção a África carregados de produtos para pagamento dos escravos. Depois eram carregados de escravos e aproveitavam os ventos favoráveis para sair da costa africana no Guiné e Benin em direção ao nordeste brasileiro (ao quais Antonio Vieira acreditarem serem resultado da providência divina em libertar os cativos do paganismo para o cristianismo) [1] e retornavam para Europa carregados de açúcar. [2] Segundo Manolo Fiorentino  a cachaça era um dos produtos mais valorizados na troca de escravos com Angola.[3] Uma ordem régia de 1649 já proibira a venda de cachaça, no entanto a medida de difícil implementação a ponto do padre Vieira em 1662 denunciar que toda a cachaça produzida já estava vendida antes mesmo de sair dos alambiques.[4] Em 1659 em nova proibição as disposições régias previam que se o fabricante clandestino de aguardente fosse “homem de qualidade” seria condenado a seis meses de prisão além de multa de cem cruzados, se fosse escravo seria açoitado nas ruas [5]. Em 1660 um aumento na tarifação da cachaça levou a uma revolta popular liderada por Jerônimo Barbalho Bezerra, quando Salvador Correi de Sá era governador do Rio de Janeiro [6]. A partir do século XVIII os portugueses cuidavam o comércio europeu, enquanto que os brasileiros ficavam com o comércio com a África, de modo que os traficantes brasileiros tornaram-se cada vez mais poderosos, com fortunas maiores do que muitos fazendeiros e mineradores, além de promoverem a produção local de produtos e um comércio interno [7]. Em 1743 a Coroa através de uma Ordem do conselho Ultramarino proibira a produção de cachaça em Minas Gerais. Este mesmo dispositivo proibia a construção de engenhos de açúcar e aguardente, no entanto, depoimento do governador da capitania Antonio de Noronha de 1777 relata que a determinação vinha sendo burlada. [8] Em 1798 existiam 253 engenhos de aguardente no Rio de Janeiro.[9]



[1]GOMES, Laurentino. Escravidão, v.I, São Paulo: Globo, 2019. p.215, 338

[2]GOMES, Laurentino. Escravidão, v.I, São Paulo: Globo, 2019. p.99

[3]GOMES, Laurentino. Escravidão, v.I, São Paulo: Globo, 2019. p.226

[4]ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O trato dos viventes, São Paulo:Cia das Letras, 2000, p. 317

[5]BRITO, José Gabriel Lemos. Pontos de partida para a história econômica do Brasil. Brasiliana v. 155, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1980, p.68

[6]AQUINO, Fernando, Gilberto, Hiran. Sociedade brasileira: uma história, São Paulo: Record, 2000, p.293

[7]CALDEIRA, Jorge. História do Brasil, São Paulo:Cia das Letras, 1997, p.78

[8]MENESES, José Newton. Os alambiques, a técnica da produção da cachaça e seu comércio na América portuguesa. In: BORGES, Maria Eliza. Inovações, coleções, museus. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011, p.141

[9]LIMA, Heitor Ferreira. Formação industrial do Brasil, Rio de Janeiro:Fundo de Cultura, 1961, p. 208



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