domingo, 31 de janeiro de 2021

A invenção da perspectiva

 

Embora Anaxágoras e Demócrito tenham escrito tratados de teoria da perspectiva[1], para Murillo Cruz será apenas após o século XII com a inauguração nas artes de uma atribuição lógica de identidade entre o ser a imagem, uma crença na representação das coisas descritas como fidedignas ao olhar, com a invenção de um sistema de projeção geométrica por Brunelleschi (1377-1446)[2], Leon Battista Alberti (1404-1472)[3] no Tratado sobre a Pintura[4] de 1436 e Antonio Manetti (1423-1497)[5] do qual são conhecidas duas experiências importantes para a perspectiva, a pintura de duas pequenas tábuas ópticas, que hoje se encontram perdidas). George Sarton observa que Alberti em De re aedificatoria de 1435 descreve um dispositivo chamado velo para facilitar o desenho de objetos em perspectiva, possivelmente uma técnica que compartilhava com Brunelleschi sendo Alberti o primeiro a escrever sobre a técnica.[6] Paolo Uccello (1397-1475) que publicou Estudo em perspectiva de um cálice de 1430. George Sarton, contudo, revela que não há certeza de que este livro de fato tenha sido escrito embora um desenho de um toro poliédrico chamado mazzocchio feito por Uccello mostra que ele dominava a técnica de perspectiva (na figura).[7]

No século XV é que se prepara e introduz a racionalização e geometrização/metrificação da imagem [8], como mostram vários exemplos: Masaccio [9] (1401-1428) no fresco da Santíssima Trindade em Santa Maria Novella de 1426[10], Piero della Francesca (1410-1492) com a Flagelação de Cristo de 1450 [11], Leonardo da Vinci (1452-1519) em notas manuscritas e no tratado póstumo Trattato della pintura [12] publicado somente em 1651 em Paris, Albrecht Dürer (1471-1528, que desenvolveu a perspectiva linear [13]), Gerardus Mercator (Gerhard Kremer, o nome Mercator é forma latinizada [14], 1512-1594, cuja projeção cilíndrica ou mapa de Mercator de 1569 constitui outra aplicação da geometria, para ajuda aos navegadores na construção de mapas[15], muito embora a nova técnica tivesse maior difusão apenas no século XVII [16]), Girard Desargues [17] (1591-1661, que lançou os fundamentos da geometria projetiva em 1639), Piero della Francesca (1415-1492, em De prospectiva pingendi, ele introduz o conceito de ponto de fuga [18]), Lorenzo Ghiberti (1378-1455, autor da famosa perspectiva em bronze das portas do Batistério de Florença) [19]. Piero dela Francesca no De prospectiva pingendi argumenta: “Muitos pintores censuram a perspectiva, porque não entendem a força das linhas e dos ângulos que a partir dela se produzem, com os quais de descreve comensuradamente cada contorno e traço. Porém parece-me que devo mostrar o quanto essa ciência é necessária à pintura”.[20]

[1]DURANDO, Furio. A Grécia antiga, Barcelona:Folio, 2005, p.135

[2]MORTIMER, Ian. Séculos de transformações. Rio de Janeiro:DIFEL, 2018, p. 157

[3]McCLELLAN III, James; DORN, Harold. Science and technology on world history: an introduction. The Johns Hopkins University Press, 1999, p.205

[4]PHILIPPS, Ellen, Viagens de descobrimento 1400-1500, São Paulo:Time Life, 1991, p.68

[5]BOORSTIN, Daniel. Os criadores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1995, p.488

[6]SARTON, George. Six wings, men of science in the Renaissance, Bloomington: Indiana University Press, 1957, p. 24

[7]SARTON, George. Six wings, men of sicnce in the Renaissance, Bloomington: Indianaa University Press, 1957, p. 24

[8]RONAN, Colin. História Ilustrada da Ciência: Da Renascença à Revolução Científica. v.3, São Paulo:Jorge Zahar, 2001, p.59

[9]CORNELL, Tim; MATHEWS, John. Renascimento v.I ,Grandes Impérios e Civilizações, Lisboa:Ed. Del Prado, 1997, p. 64

[10]CORNELL, Tim; MATHEWS, John. Renascimento v.I , Grandes Impérios e Civilizações, Lisboa:Ed. Del Prado, 1997, p. 69

[11]PHILIPPS, Ellen, Viagens de descobrimento 1400-1500, São Paulo:Time Life, 1991, p.68

[12]SARTON, George. Six wings, men of sicnce in the Renaissance, Bloomington: Indianaa University Press, 1957, p. 24

[13]STEWART, Ian. O fantástico mundo dos números, Rio de Janeiro:Zahar, 2016, p.328

[14]DERRY, T.; WILLIAMS, Trevor. Historia de la tecnologia: desde la antiguidade hasta 1750, Mexico:Siglo Vintuno, 1981, p.334

[15]HALE, John. Idade das explorações. Biblioteca de História Universal Life, Rio deJaneiro:José Olympio, 1970,p.70; BOORSTIN, Daniel. Os descobridores. Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p. 255

[16]DELUMEAU, Jean. A civilização do Renascimento, Lisboa:Estampa, 1984, v.I, p.172; TATON, René. A ciência antiga e medieval, tomo I, livro 2, Sâo Paulo:Difusão Europeia, 1959, p. 159; VASCONCELLOS, Ernesto; GAMEIRO, Alfredo; MALHEIROS, Carlos. In: História da Colonização Portuguesa no Brasil, Edição Monumental Comemorativa do Centenário de Independência do Brasil, Porto, Litografia Nacional, 1921, Capítulo 2: A arte de navegar dos portugueses, p. 93

[17]RONAN, Colin. História Ilustrada da Ciência: Da Renascença à Revolução Científica. v.3, São Paulo:Jorge Zahar, 2001, p.108

[18]SARTON, George. Six wings, men of sicnce in the Renaissance, Bloomington: Indianaa University Press, 1957, p. 24

[19]BRONOWSKI, J. A escalada do homen, São Paulo:Martins Fontes, 1979, p.179

[20]ROSSI, Paolo. Os filósofos e as máquinas. São Paulo:Cia das Letras, 1989, p. 33



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