terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Qualidade do açúcar do Brasil colonial

 

Ao final do século XVIII acumulam-se reclamações contra a má qualidade do açúcar branco brasileiro e diversas formas de fraude, como a mistura dos dois tipos de açúcar na mesma caixa e mesmo a inclusão de pedras [1]. Diante de tantas fraudes na pesagem o governo central determina em 1657 que as caixas de açúcar comecem a ser marcadas e numeradas consecutivamente de modo a certificar a qualidade do produto. Tal como as marcações do gado as marcas usadas nas caixas de açúcar usavam combinações das iniciais do nome do senhor de engenho. A Companhia Geral do Maranhão criada em 1682 impõe um regime de monopólios. Segundo João Francisco Lisboa: “os administradores não só faltaram às diversas obrigações a que se haviam sujeitado como se demasiaram em toda a casta de roubo e vexações. Os pesos e medidas que usavam eram falsificados, as fazendas e comestíveis expostos à venda, da pior qualidade e até corruptos”.[2] Em 1751 seriam criadas Casas de Inspeção.[3] John Mawe relata a marcação dos fardos de algodão feitos por oficial do governo como forma de especificar a qualidade do produto exportado.[4] Charles Boxer no seu livro O Império Colonial Português menciona o depoimento do navegante William Dampier em visita a Salvador em 1699 em que destaca a qualidade do açúcar do Brasil: “O açúcar deste país é muito melhor do que o que transportamos para a Inglaterra vindo de nossas plantações [nas Antilhas], porque todo o açúcar aqui fabricado é refinado, o que o torna mais branco e mais fino que o nosso mascavado, nome que damos ao nosso açúcar não refinado”.[5] A figura mostra marcas de caixas de açúcar dos engenhos de Manoel de Chaves, Cristóvão de Melo, Colégio de Santo Antão de Lisboa, Padres da Companhia de Jesus da Bahia, Religiosos de Nossa Senhora do Carmo da Bahia e Gregório Soares[6]

[1]GAMA, Ruy. Engenho e tecnologia, São Paulo: Duas Cidades, 1983, p.329; GOMES, Laurentino. Escravidão, v.I, São Paulo: Globo, 2019. p.322

[2]MATOS, Clarence; NUNES, César. História do Brasil, São Paulo: Círculo do Livro, 1993, p. 27; BRITO, José Gabriel Lemos. Pontos de partida para a história econômica do Brasil. Brasiliana v. 155, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1980, p.74

[3]SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: Cia das Letras, 1988, p. 115

[4]MAWE, John. Viagens ao interior do Brasil. São Paulo: USP, 1978, p. 193

[5]ALBUQUERQUE, Manoel Maurício. Pequena história da formação social brasileira, Rio de Janeiro: Graal, 1981, p. 71; BRITO, José Gabriel Lemos. Pontos de partida para a história econômica do Brasil. Brasiliana v. 155, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1980, p.306

[6]SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: Cia das Letras, 1988, p. 114



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