Para
Averrois não é possível a conciliação entre fé e razão, pois a razão não é
capaz de alcançar as verdades alcançadas somente por Deus[1].
Para Pierre Guichard será pelo contato
com a obra de Averrois no século XIII que irá nascer o intelectual ocidental
portador de uma visão laica do mundo, paradoxalmente isto ocorre em um momento em
que o ciclo da filosofia aristotélica já havia se encerrado no Oriente[2] Cesare Cantu observa que Averrois limitou-se comparar textos de Aristoteles sem
nenhuma contribuição original o que fez com seu trabalho fosse abandonado logo
que surgiram melhores traduções do grego, tendo sido sua obra cultivada
principalmente entre judeus e cabalistas espanhóis.[3] Roger Arnaldez, contudo, observa que Averrois caiu em desgraça quando foi
condenado em Córdoba em 1195 e teve suas obras de filosofa banidas ou
queimadas, mas não suas obras médicas e outras obras estritamente científicas.[4] Jacob d´Ancona, seguidor de Maimônides, em sua viagem à China em 1270 foi questionado
sobre os ensinamentos em círculos judeus, entre os quais os cabalistas da
comunidade judaica de Gerona na Espanha, de que acreditavam no que é contra a natureza
e a razão, ao que Jacob respondeu: “Não é a aparência, nem a informação dos
outros, nem as crenças e profecias dos idólatras que devem ser nossos guias,
pois esse é o caminho do erro, mas a reverência pelo Nome Divino, junto com o
uso da razão e do intelecto, que são dons do Santo Deus. Assim, não podemos ser
enganados nem acreditar que as esferas [estrelas] tem almas, nem que a natureza
das coisas pode ser explicada com letras ou números [referência à cabala
judaica], nem que dá azar calçar a bota esquerda antes da direita, nem que as
árvores produzem pássaros”.[5] Para Edouard Perroy “não houve, sem
dúvida, em toda a civilização ocidental época mais preocupada com a lógica e o
raciocínio, assim como com as discussões, classificações e com a abstração, que
o século XIII” reflexo do reatamento cultural com Bizâncio o que
intensificou o contato com as filosofias pré cristãs dos filósofos gregos.[6]
[1]PERROY, Edouard. A
idade média: o período da Europa feudal (sec. XI - XIII), tomo III, v. 2, São
Paulo:Difusão Europeia, 1974, p. 161
[2]GUICHARD, Pierre. Islã. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do
Ocidente medieval. v.I, São Paulo:Unesp, 2017, p. 714, 718
[3]CANTU, Cesare. História
Universal, volume XIV, São Paulo:Editora das Américas, 1955, p. 304
[4]GILLISPIE, Charles.
Dicionário de biografias científica, volume 1, Rio de Janeiro:contraponto,
2007, p.153
[5]SELBOURNE, Jacob. Cidade da Luz, Rio de Janeiro: Imago, 2001, p. 258
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