terça-feira, 29 de dezembro de 2020

O racionalismo nos séculos XII e XIII

 

Para Averrois não é possível a conciliação entre fé e razão, pois a razão não é capaz de alcançar as verdades alcançadas somente por Deus[1]. Para Pierre Guichard  será pelo contato com a obra de Averrois no século XIII que irá nascer o intelectual ocidental portador de uma visão laica do mundo, paradoxalmente isto ocorre em um momento em que o ciclo da filosofia aristotélica já havia se encerrado no Oriente[2] Cesare Cantu observa que Averrois limitou-se comparar textos de Aristoteles sem nenhuma contribuição original o que fez com seu trabalho fosse abandonado logo que surgiram melhores traduções do grego, tendo sido sua obra cultivada principalmente entre judeus e cabalistas espanhóis.[3] Roger Arnaldez, contudo, observa que Averrois caiu em desgraça quando foi condenado em Córdoba em 1195 e teve suas obras de filosofa banidas ou queimadas, mas não suas obras médicas e outras obras estritamente científicas.[4] Jacob d´Ancona, seguidor de Maimônides, em sua viagem à China em 1270 foi questionado sobre os ensinamentos em círculos judeus, entre os quais os cabalistas da comunidade judaica de Gerona na Espanha, de que acreditavam no que é contra a natureza e a razão, ao que Jacob respondeu: “Não é a aparência, nem a informação dos outros, nem as crenças e profecias dos idólatras que devem ser nossos guias, pois esse é o caminho do erro, mas a reverência pelo Nome Divino, junto com o uso da razão e do intelecto, que são dons do Santo Deus. Assim, não podemos ser enganados nem acreditar que as esferas [estrelas] tem almas, nem que a natureza das coisas pode ser explicada com letras ou números [referência à cabala judaica], nem que dá azar calçar a bota esquerda antes da direita, nem que as árvores produzem pássaros”.[5] Para Edouard Perroy “não houve, sem dúvida, em toda a civilização ocidental época mais preocupada com a lógica e o raciocínio, assim como com as discussões, classificações e com a abstração, que o século XIII” reflexo do reatamento cultural com Bizâncio o que intensificou o contato com as filosofias pré cristãs dos filósofos gregos.[6]

[1]PERROY, Edouard. A idade média: o período da Europa feudal (sec. XI - XIII), tomo III, v. 2, São Paulo:Difusão Europeia, 1974, p. 161

[2]GUICHARD, Pierre. Islã. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do Ocidente medieval. v.I, São Paulo:Unesp, 2017, p. 714, 718

[3]CANTU, Cesare. História Universal, volume XIV, São Paulo:Editora das Américas, 1955, p. 304

[4]GILLISPIE, Charles. Dicionário de biografias científica, volume 1, Rio de Janeiro:contraponto, 2007, p.153

[5]SELBOURNE, Jacob. Cidade da Luz, Rio de Janeiro: Imago, 2001, p. 258

[6]PERROY, Edouard. A idade média: o período da Europa feudal (sec. XI - XIII), tomo III, v. 2, São Paulo:Difusão Europeia, 1974, p. 153



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