segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Brocas no Antigo Egito

 

Flinders Petrie descobriu em 1881 próximo as pirâmides de Gizé um cilindro de granito (UC16036) [1] da IV Dinastia (2613-2494 a.c) conhecido como “Núcleo 7” que revela um notável conhecimento técnico dos egípcios que conseguiam perfurar o granito com brocas. A presença de traços no cilindro de forma contínua em espiral não poderia ser conseguida com uso de furador de arco, tampouco seria possível instrumentos de cobre perfurar o granito.[2] Edwards conclui com uma hipótese da qual a ciência não oferece qualquer respaldo: “constituindo-se o cobre, ao que se sabe, no único metal que os egípcios possuíam antes do médio Império, supõem-se que eles  empregavam um processo, hoje perdido, para dar ao cobre uma têmpera extremamente dura; esta hipótese, porém ainda não pode ser provada”.[3] Para Flinders Petrie considera que o cofre de granito da Câmara do Rei da Pirâmide de Gizé foram feitos com brocas de tubo, as quais deixam um miolo central, com traços no cilindro. Só depois que todos os buracos foram feitos e todos os miolos removidos é que o cofre deve ter sido trabalhado manualmente para atingir a dimensão desejada. Nas brocas modernas o cilindro de corte é de aço e as pontas de diamante.[4] Dificilmente os artesãos poderiam ter perfurado cerca de 20 centímetros de granito sem precisar remover suas brocas, o que revela o uso de máquinas de furar.[5] Petrie observa que o uso de brocas para furar pedras já era conhecido da I Dinastia.[6] Segundo Zaba, após analisar o desenvolvimento da matemática, medicina e de construção dos egípcios: “devemos estudar com apreço as ciências dos antigos [...] impõe-se proceder a revisão radical de nossos conceitos em relação aos temas da ciência egípcia, que até agora constituíram objeto de tratamento demasiadamente desfavorável”.[7] Kurt Lange se refere a vestígios de instrumentos egípcios dotados de longa haste de madeira tornada pesada por meio de blocos de pedra terminada por duas cavilhas de madeira que deviam arrastar a broca de pedra cônica. Os blocos de pedra deviam funcionar como volantes enquanto o eixo central girava tendo areia úmida como abrasivo.[8] Seton Lloyd sugere o uso de brocas e serras feitas com algum material abrasivo para modelagem das pedras. Martelos e esferas feitas de dolerite podem ter sido usados para o trabalho com a pedra. Polias e cabrestantes não eram conhecidos e não há também evidências do uso de rodas antes do Novo Reino. Os únicos instrumentos disponíveis eram alavancas, trenós e roletes e uma espécie de molinete espanhol para torcer cordas.[9]

[1]Petrie, William Matthew Flinders. Pyramids and Temples of Gizeh. p.77, pl.VII.7; Petrie, William Matthew Flinders. Tools and Weapons. LII.59; Trope, Betsy Teasley. Excavating Egypt. Great Discoveries from the Petrie Museum of Egyptian Archaeology. p. 44; Gorelick, L.. Ancient Egyptian stone drilling. p.40-47; Stevenson, Alice. The Petrie Museum of Egyptian Archaeology: Characters and Collections. p.9 http://petriecat.museums.ucl.ac.uk/detail.aspx#

[2]https://seuhistory.com/videos/invencoes-lendarias-o-nucleo-7

[3]EDWARDS, J. As pirâmides do Egito, Rio de Janeiro:Record, 1985, p.230

[4]ALVAREZ, Lopez. O enigma das pirâmides, São Paulo:Hemus, 1978, p.83

[5]https://www.fascinioegito.sh06.com/maquinaria.htm

[6]ALVAREZ, Lopez. O enigma das pirâmides, São Paulo:Hemus, 1978, p.67

[7]ALVAREZ, Lopez. O enigma das pirâmides, São Paulo:Hemus, 1978, p.68

[8]LANGE, Kurt. Pirâmides, esfinges e faraós, Belo Horizonte:Itatiaia, 1958, p. 170

[9]LLOYD, Seton. Building in brick and stone. In: SINGER, Charles; HOLMYARD, E. A history of technology, Oxford Clarendon Press, v.I, 1958, p. 479



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