sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Ataques aos engenhos coloniais dos séculos XVI e XVII

 

Lemos Brito observa que no Brasil colônia do século XVI as ameaças constantes de ataques de tribos indígenas constituem um fator adicional para o português não investir intensivamente na atividade agrícola: “o colono não sentia atrativos por uma iniciativa trabalhosa, relativamente pouco compensadora, demorada e a exigir um serviço permanente de defesa”.[1] São inúmeros os relatos de destruição de engenhos e lavouras por indígenas no século XVI, como no Maranhão ou na Paraíba do Sul segundo relato de Pero de Goes. Segundo Lemos Brito: “poder-se-iam multiplicar os exemplos desses assaltos dos silvícolas, determinando muitas vezes o malogro total das lavouras como em Ilheus e Paraíba do Sul e na generalidade dos casos levando aos colonos desânimo, desinteresse, a morte da iniciativa no domínio da agricultura”.[2] Havia também os ataques de piratas e corsários estrangeiros. Robert Withrington bombardeou e destruiu engenhos na Bahia em 1582, em 1591 Cavendish atacou Santos, São Vicente e Ilha Grande provocando saques e incêndios em diversos engenhos. Os holandeses atacaram inicialmente a Bahia cometendo pilhagens nas costas de Alagoas e Pernambuco como consta nos documentos da Companhia das Índias Ocidentais. Também os próprios portugueses na reconquista de Sergipe sob ordens do vice rei Montalvão incendiou canaviais e engenhos de açúcar holandeses. Segundo Felisbelo Freire sob o ataque aos holandeses em Sergipe: “a destruição encetada pelos conquistados é acabada pelos conquistadores , que entregam às chamas a pequena cidade (Itabaiana) devastam os canaviais e os sítios, incendeiam os engenhos e em vez de protegerem os infelizes abandonados enxotam-nos de seus lares, para com a miséria e a dor, seguirem a reforçar o exército do fugitivo”. Durante toda a conquista de Pernambuco pelos holandeses e demais capitanias vizinha o período foi seguido por guerra, fuga, destruição e pilhagens. Segundo Ernesto Ennes, no tempo do quilombo de Palmares as pilhagens das propriedades e engenhos eram frequentes.[3] Segundo Décio Freitas os palmarinos faziam suas incursões não somente para roubar armas e ferramentas, mas para exercer sua vingança contra seus antigos senhores depredando  engenhos e incendiando plantações.[4] Segundo o depoimento do holandês Barleus os ataques dos palmerinos levaram aos holandeses a planejar a destruição do quilombo, porém Edson Carneiro contesta que os prejuízos pudessem justificar a custosas entradas de choque armado.[5] Mario Martins de Freitas menciona um documento encontrado na Torre do Tombo em Portugal escrito pelo Conselheiro Drummond que relata os ataques dos palmerinos aos engenhos e conclui: “era de fato  um inimigo portas a dentro , inimigo terrível porque organizado, inimigo terrível porque vingativo”.[6]

[1]BRITO, José Gabriel Lemos. Pontos de partida para a história econômica do Brasil. Brasiliana v. 155, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1980, p.14

[2]BRITO, José Gabriel Lemos. Pontos de partida para a história econômica do Brasil. Brasiliana v. 155, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1980, p.24

[3]BRITO, José Gabriel Lemos. Pontos de partida para a história econômica do Brasil. Brasiliana v. 155, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1980, p.62

[4]FREITAS, Décio. Palmares a guerra dos escravos, Rio de Janeiro: Graal, 1978, p. 38

[5]CARNEIRO, Edison. O quilombo de Palmares, São Paulo: Martins Fontes, 2011, p. 59

[6]FREITAS, Mario Martins. Reino negro de Palmares, Rio de Janeiro:Bibliex, 1988, p. 210




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