Por volta de 2600 a.c. na China a concubina do imperador Huang ti descobriu que poderia desenrolar um delicado fio de seda do casulo de um inseto (mbobix mori) que ficou conhecido como bicho da seda e que deu origem a um lucrativo comércio inicialmente restrito aos membros da família real e da nobreza [1]. Em 1132 a.c já se tingia a seda para os vestidos na dinastia Shang.[2] Seda chinesa da dinastia Shang foi encontrada em tumbas egípcias, testemunho do comércio na região.[3] Uma pintura em tábua encontrada na província de Xinjiang na China datada de 600 d.c relata a história de uma princesa que escondeu o bicho da seda e sementes de amoreira (as folhas de amoreira são o alimento do bicho da seda) em um enfeite real em sua cabeça para levar a tecnologia ao reino distante da Índia de onde havia sido enviada em casamento [4]. Abbott Usher contudo relata que a indústria da seda já estava estabelecida no décimo século a.c.[5] Uma primeira tentativa de produção de seda na Europa teria sido realizada com o imperador Justiniano em 530, em que segundo a lenda ovos de bicho da seda foram transportados para Constantinopla, provavelmente por Khotan, em bengalas ocas ou gomos de bambu [6], de monges do Monte Athos [7] nestorianos [8], no entanto o oriente continuou sendo fornecedor de seda até o século XII [9]. O monopólio chinês da seda, por sua vez, se manteve até meados do século VI quando seus segredos foram roubados da China, levados para Bizâncio e introduzidos na Europa. De fato, a China foi muitas vezes conhecida como Seres ou Sina, nomes derivados do chinês ssu que significa seda [10]. Segundo Aristóteles coube a Pânfila, filha de Plateus a invenção de um método para esvaziar os casulos do mbombix / bombyx mori em um longo fio contínuo. Pelo processo de Pânfila os casulos eram recolhidos depois da saída do inseto, cardados os filamentos e fiados. O fio resultante era mais frágil, mais grosseiro e menos brilhante do que o processo chinês que só ficou conhecido no Mediterrâneo no século VI a.c.[11] Paul Herrmann se refere a propaganda imperial pela qual a invenção se deve à imperatriz Si Li Shi primeira dama de Huang Ti que ao observar os frutos de uma amoreira pode observar serem constituídos de finíssimos fios os quais seus delicados dedos puderam desenrolar o delicado novelo colocando-o em um tear para confecção de um tecido. Todo o processo de fabricação da seda era considerado tarefa sagrada, um presente dos deuses, e mantido em segredo.[12]
[1]LOON, Hendrick.
História das invenções: o homem fazedor de milagres, Sâo Paulo:Brasiliense,
1961, p.61; COUTEUR, Penny le; BURRESON, Jay. Os botões de Napoleão: as 17
moléculas que mudaram a história. Rio de Janeiro:Zahar, 2006, p.99
[2]BARRETO, Elias.
Enciclopédia das grandes invenções e descobertas. São Paulo:Cascino Editores,
1971, p.42
[3]https://www.ancient.eu/Silk/
[4]MacGREGOR, Neil. A
história do mundo em 100 objetos, Rio de Janeiro:Intrínseca, 2013, p.363; ZISHKA,
Anton. A guerra secreta pelo algodão, Porto Alegre: Globo, 1936, p. 18
[5]USHER, Abbott. Uma história
das invenções mecânicas, Campinas:Papirus, 1993, p. 81
[6]LOON, Hendrick.
História das invenções: o homem fazedor de milagres, Sâo Paulo:Brasiliense,
1961, p.62
[7]SINGER, Charles; HOLMYARD, E. A history of technology, v.II, Oxford,
1956, p.197; DELORT, Robert. Animais. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude.
Dicionário analítico do Ocidente medieval. v.I, São Paulo:Unesp, 2017, p. 74
[8]DERRY, T.; WILLIAMS, Trevor. Historia de la tecnologia: desde la antiguidade hasta 1750, Mexico:Siglo Vintuno, 1981, p.147
[9]BRAUDEL, Fernand. Civilização material e capitalismo, séculos XV-XVIII, Rio de Janeiro:Cosmos, 1970, p.264
[10]RONAN, Colin. História
Ilustrada da Ciência: Oriente, Roma e Idade Média. v.2, São Paulo:Jorge Zahar,
2001, p.28, 29, 64
[11]GLOTZ, Gustavo.
História Econômica da Grécia, Lisboa:Cosmos, 1973, p. 238
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