Walter Raleigh no século XVI se refere as amazonas como mulheres
guerreiras que trocavam ouro por pedras de jade ou uma variedade de feldspato
chamada de amazonita. Sua existência também é relatada na mesma época por
Hernando de Rivera no Paraguai e por André Thévet, ou por Jean Mocquet em 1617[1]. Em 1735
o astrônomo Charles Marie de La Condamine em sua viagem ao longo do Amazonas para
medição do arco meridiano descreve amuletos batraquianos em pedras verdes semelhantes ao jade:
"há entre os Tapajós, mais
facilmente do que alhures, as pedras verdes conhecidas com o nome de pedras das
Amazonas, cuja origem é ignorada e que foram muito procuradas outrora, por
causa das virtudes que lhes eram atribuídas na cura do cálculo e da eólica
renais, bem como da epilepsia", também descritos por Spix e Martius
como pierres divines em madrepérola e
com nome de muiraquitã. Tratam-se de
artefatos cuidadosamente esculpidos, em mineral ou rocha verde, normalmente
jade nefrítico, que tinha um grande valor simbólico, usado para vários fins,
mas principalmente como amuleto para prevenir doenças. Segundo a lenda mulheres
amazonas que teriam atacado Orellana em 1541 retiravam os muiraquitãs de um
lago chamado espelho da lua para presentear os homens que as visitavam
anualmente.[2] De La Condamine as decreve em Voyage sur
Amazone (1735-1745) e von Martius (1867) em Beitrãge zur Ethnographie und Sprachenkunde Amerikas zumal Brasiliens.
Os relatos de La Condamine que incluem a existência das lendárias amazonas
causou alvoroço nos círculos intelectuais europeus o que fez Alexander von
Humboldt comentar que talvez ele tenha defendido a existência das amazonas e
seus exóticos costumes “para se
aproveitar de uma generosa recepção numa sessão pública da Academia de Ciências
e de sua ansiedade por ouvir coisas”.[3] Antropólogos
e arqueólogos ainda não conseguiram entender como esses povos tapajós
localizados nas proximidades de Santarém poderiam, com instrumentos
rudimentares e improvisados, chegarem a produtos tão bem esculpidos, elaborados
e polidos.[4] Para
Barbosa Rodrigues, que escreve em 1875, estas peças, possivelmente usadas como
pendentes em colares, tem origem asiática.[5] Josué
Camargo Mendes observa que a tese de procedência asiática se desfez quando se
descobriu a ocorrência de nefrita ou jadeíta na região.[6] Ladislau
Neto atribui a etimologia a mira – nação, ki – chefe, itá – pedra, ou seja,
“pedra do chefe da nação”. Uma das muitas lendas de sua origem atribui as
pedras como presentes dados pelas amazonas aos homens com quem mantinham
relações, o que explicaria seu formato sexual.[7] Humboldt
descreve alguns destes amuletos entre habitantes das margens do rio Negro.[8] La Condamine
estivera na América do Sul para realização de medições do arco meridiano e suas
medidas confirmaram que a tese de Cassini de que a terra era achatada no
equador estava errada prevalecendo as teses de Newton de que era achatada nos
pólos.
[1]PRIORE, Maria del. Histórias da gente brasileira, V.1 Colônia, Rio de
Janeiro:Leya, 2016, p. 50
[2]MENDES, Josué Camargo.
Conheça a pré história brasileira, São Paulo: USP, Polígono, 1970, p. 101
[3]SAFIER, Neil. Relato de segunda mão. Revista de História da Biblioteca
Nacional, n.57, junho de 2010, p. 64
[4]COSTA, Marcondes Lima
da. Muyrakytã ou muiraquitã, um talismã arqueológico em jade procedente da
Amazônia: uma revisão histórica e considerações antropogeológicas. Acta
Amazonia, v.32, n.3, p.467-490, 2002; SOUTHEY, Robert. Historia do Brasil, v. II. Rio de Janeiro:Garnier,
1862, p. 455
[5]GALVÃO, Eduardo.
Exposições de antropologia, Belém: Museu Goeldi, 19778, p. 30
[6]MENDES, Josué Camargo.
Conheça a pré história brasileira, São Paulo: USP, Polígono, 1970, p. 102
[7]SANTOS, Yolanda
Lhuillier dos. Convite à Ciência. São Paulo:Logos, 1965, p.136
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