sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Biblioteca de Ebla

 

A placa de pedra calcária de Kish de 3500 a.c. é a mais antiga escrita pictográfica conhecida com sinais para mãos, pés e trenó. Inventada pelos sumérios por volta de 3000 a.c. em Uruk com cerca de 900 sinais[1] a escrita cuneiforme foi adotada pelos Acadianos, Babilónicos, Elamitas, Hititas e Assírios. Na primeira etapa Uruk IV escrevia-se em tabuinha de argila numa escrita ideográfica ou logográfica em cada sinal representava uma ideia. Entre os registros mais importantes destacam-se as tabuinhas de argila encontradas em Girsu (Lagash) e Enlil (Nippur) com registros de listas de rações a serem distribuídas (óleo, cevada, etc) bem como recibos e contas para gestão do templo.[2] As tabuletas era blocos de argila geralmente quadrados de cerca de 7,5 centímetros de largura que cabia confortavelmente nas mãos.[3] Na segunda etapa Uruk III os sinais são mais evoluídos e abstratos predominando as linhas retas sobre as curvas, as tabuinhas maiores, possivelmente representando registros contábeis. As placas de argilas secas ao sol poderiam ser modificadas caso umedecidas, enquanto que as placas queimadas em fornos constituíam um suporte durável, garantindo a inviolabilidade da correspondência pessoal e comercial.  No período dinástico 2900 a.c. a 2334 a.c. a escrita tornou-se mais linear mudando a escrita do sentido vertical para o horizontal, da esquerda para a direita[4]. Os selos cilíndricos que indicavam a propriedade de um objeto possivelmente foram outros possíveis antecessores da escrita.[5] Foi através da escrita cuneiforme elaborada dos babilônios e assírios que os arqueólogos suspeitariam da existência de um povo ainda mais antigo da qual a escrita pudesse ter evoluído, o que viria a ser confirmado com a descoberta de vestígios da Suméria. Após conquistar Maria o rei Hammurabi mandou inventariar os arquivos do Palácio levou consigo a informação obtida. Em Ebla no palácio real foram encontradas tabuinhas em escrita cuneiforme que cobre o mandato de três soberanos do século XXIV a.c. mantidos numa biblioteca. A biblioteca em Ebla é considerado o maior arquivo do terceiro milênio a.c. e com documentos que mostram as relações com outros Estados, ao contrário de outros arquivos encontrados na Mesopotâmia da mesma época (Uruk, Ur, Nippur, Fara, Adab ou Lagash) que se caracterizam por temáticas locais próprias de suas cidades Estado.[6] Dos arquivos do templo de Uruk / Erech bíblico[7] na Suméria a qual uma lenda judaica atribui a Nemrod (Genesis 10:8) foram encontradas uma série de tabuletas com registros de pictogramas que datam da metade do século IV a.c . São empregados dois métodos: o primeiro consistia na marcação do pictograma com linhas com a intenção de variar seu significado, o segundo era utilizar um novo pictograma não para significar uma ação ou coisa, mas um som. O intercâmbio entre Uruk e o Egito está presente também em selos cilíndricos e vasilhas com asas e bicos característicos de Uruk encontrados no Egito.[8] Arnold Toynbee data a escrita na Suméria do quinto milênio a.c.[9] Gaston Maspero se admira pelo fato de que mesmo após intenso intercâmbio de caravanas que visitavam o Egito o uso do papiro não tenha se difundido entre os caldeus, pois possivelmente tiveram conhecimento da técnica de escrita egípcia. O uso das tabuletas de argila permitiu uma maior conservação da escrita caldeia. [10].



[1]EYDOUX, Henri Paul. Á procura dos mundos perdidos, São Paulo:Melhoramentos, 1967, p. 63

[2]SILVA, Armando Malheiro. Arquivística: teoria e prática de uma ciência da informação, Porto: Afrontamento, 2009, p.46

[3]MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura, São Paulo: Cia das Letras, 1997, p. 149

[4]GONTIJO, Silvana. O mundo em comunicação, Rio de Janeiro:Aeroplano, 2001, p.37

[5]ROAF, Michael. Mesopotãmia v.I, Lisboa:Ed. Del Prado, 1996, p. 67, 68

[6]https://historiaeweb.com/2018/08/24/archivos-de-ebla/

[7]ROAF, Michael. Mesopotãmia v.I, Lisboa:Ed. Del Prado, 1996, p. 59

[8]ROAF, Michael. Mesopotãmia v.I, Lisboa:Ed. Del Prado, 1996, p. 65

[9]TOYNBEE, Arnold. A humanidade e a mãe terra, Rio de Janeiro:Zahar, 1976, p.46

[10]MASPERO, Gaston. History Of Egypt, Chaldæa, Syria, Babylonia, and Assyria, v. 3, London:Grolier Society, 1896. http://www.gutenberg.org/files/17323/17323-h/17323-h.htm



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