quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Astrologia babilônica

 

Entre os assírios a astrologia era uma forma de augúrio bastante popular.[1] Os deuses são associados aos astros: Sin é o deus lua, Chamach o deus Sol, a deusa Ishtar o planeta Vênus[2]. Ishtar é Vênus a estrela matutina e vespertina, e a estrela de oito pontas. Sob controle de Ishtar, a rainha dos céus, dançam todas as noites os signos do zodíaco em carruagem puxada por leões ou bodes.[3] Na figura Ishtar segura sua estrela diante da deusa lua Sin. A referência a um “cinturão de Ishtar” [4] ou “espartilho de Ishtar”  em algumas referências parece estar relacionada a um desenvolvimento posterior entre os egípcios referente ao amuleto Tyet, feito de jaspe, usado para proteger as múmias, citado no livro dos Mortos de Nu[5] conhecido como “nó de Isis”, sem correlação, portanto, com os astros. Os escritos astrológicos babilônios misturam profecias e observações astronômicas. Segundo the Reports of the magicians and astrologers of Nineveh and Babylon in the British Museum de Reginald Thompson publicado em 1900 alguns dos augúrios previam que quando “Júpiter ficar na frente de marte haverá milho e os homens serão mortos ou um grande exército será morto”, “quando a lua montar numa carruagem o domínio do rei da Acádia será próspero”, “quando Mercúrio culminar em Tamnuz haverá cadáveres”, “quando Júpiter se encontrar com Vênus as preces chegarão ao coração dos deuses”.[6] Segundo Neugebauer um dos mais antigos horóscopos babilônicos encontrado data de 409 a.c. Para Neugebauer: “o papel da astronomia é talvez único, na medida em que seu desenvolvimento lento, mas firme, criou as bases para o mais decisivo passo da história humana: a criação das modernas ciências exatas”.[7] Para Daniel Boorstin: “O desenvolvimento  da ciência dependeria da disposição do homem para acreditar no improvável, para passar por cima dos ditames do senso comum. Com a astrologia o home deu seu primeiro grande passo científico para um esquema que descrevesse como forças invisíveis provenientes da maior distância imaginável, do próprio fundo dos céus, moldavam os triviais acontecimentos quotidianos. O ceu foi, pois, o laboratório da primeira ciência da humanidade”[8]. No modelo astronômico da antiguidade não havia contudo a percepção de que tais astros tivessem tão distantes do homem. A tabuleta de Ammizaduga (Enuma Anu Enlil) da Assíria escrita com caracteres cuneiformes datada de XVII a.c. contêm um documento completo de astronomia com movimentos de Vênus e os presságios associados a cada ciclo.[9] Isaías condena a prática de astrologia dos babilônios (47:13-15): “Já estás cansada com a multidão das tuas consultas! Levantem-se, pois, agora, os que dissecam os céus e fitam os astros, os que em cada lua nova te predizem o que há de vir sobre ti. Eis que serão como restolho, o fogo os queimará; não poderão livrar-se do poder das chamas”. O modelo hierárquico da astrologia babilônia imitava a ordem social do país. No nível superior estava Saturno, porque é o planeta mais lento e por isso se acredita ser o astro mais poderoso. Depois seguiam-se Júpiter, Marte, Sol, Vênus, Mercúrio e a lua, considerada mais débil.[10] Marilena Chaui observa que a invenção do calendário mostra uma capacidade de abstração e percepção do tempo como algo natural passível de ser compreendido pelo homem e não como algo decorrente de uma força divina incompreensível. [11] O sacerdote babilônio de Baal, Beroso (século III a.c.) escreveu em língua grega a “História da Babilónia” composta por três livros, texto hoje perdido, mas mencionado por escritores clássicos como Flávio Josefo os quais mencionam a existência de tratados de astrologia por ele escritos.[12]

[1]KRAMER, Samuel. Mesopotâmia o berço da civilização, Rio de Janeiro: José Olympio, 1983, p. 132

[2]CROUZET, Maurice. História Geral das Civilizações: O Oriente e a Grécia Antiga: as civilizações imperiais, v. I, Rio de Janeiro:Bertrand Brasil, 1998, p. 232

[3]O’CONNEL, Mark, AIREY, Raje. Almanaque ilustrado dos símbolos. São Paulo:Escala, 2010, p.13

[4]O’CONNEL, Mark, AIREY, Raje. Almanaque ilustrado dos símbolos. São Paulo:Escala, 2010, p.13

 [5]Arqueologia pelo mundo, O amuleto da deusa Ísis: conheça o Tyet!, 2018 https://www.youtube.com/watch?time_continue=3&v=Aw5CYFOzhiM&feature=emb_logo

[6]WEST, John Anthony. Em defesa da astrologia, São Paulo:Siciliano, 1992, p. 64 https://warburg.sas.ac.uk/pdf/FAH10b2344403v2.pdf

[7]NEUGEBAUER, Otto. The exact sciences in antiquity, p.177

[8]BOORSTIN, Daniel. Os descobridores, Rio de Janeiro: Civilizaçao Brasileira, 1989, p. 30

[9]FAGAN, Brian. Los setenta grandes inventos y descobrimentos del mundo antiguo, Barcelona:Blume, 2005, p. 235

[10]FAGAN, Brian. Los setenta grandes inventos y descobrimentos del mundo antiguo, Barcelona:Blume, 2005, p. 237

[11]CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia, São Paulo: Ática, 2004, p. 37

[12]https://en.wikipedia.org/wiki/Berossus



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