Jacques le Goff aponta o que ele denomina de “esclerose da escolástica” entre as quais
as doutrinas nominalistas de Guilherme/William de Ockam do século XIV em que o
intelectual da idade média é substituído pelo humanista[1]. A
Navalha de Occam / Ockham é um princípio lógico e epistemológico que afirma que
a explicação para qualquer fenômeno deve assumir a menor quantidade de
premissas possível: pluralidades não devem ser postas sem necessidade (em
latim: pluralitas non est ponenda sine
neccesitate), em vão se faz com
muitas coisas aquilo que pode ser feito com poucas (frustra fir per plura
quod fieri potest per pauciora)[2] ou então
“Nós não devemos multiplicar as entidades
a não ser que exista necessidade” (Entia
non sunt praeter necessitatem multiplicanda) o que leva a uma simplificação
de toda a teoria do conhecimento imposta pela elaborações doutrinárias da
escolástica[3].
Newton reconhecia o critério de Occam quando escreve que “não se deve
admitir causas mais numerosas para as coisas naturais do que aquelas que são
verdadeiras e suficientes para explicar os fenômenos”[4]. Segundo Hilário Franco com Ockam o
racionalismo era excluído dos assuntos da fé uma vez que a omnipotência de Deus
escapa à razão humana[5]. Para
José Silveira da Costa, Guilherme de Ockham aprofundou a dissolução da
escolástica iniciada por Duns Scotus.[6] Para
Jacques Verger os críticos de Ockam e seus herdeiros nominalistas irão enfraquecer
as poderosas sínteses da escolástica “livrando
o pensamento científico do entrave teológico” [7], no
entanto entende que o papel libertador deste intelectual ainda se encontra
bastante limitado pelos preconceitos corporativistas ou por sua ambição aristocrática
“o que fortalece a ordem estabelecida,
atenua o espírito crítico reconduz o
intelectual à posição de intelectual orgânico que manipula um saber já
constituído com a simples finalidade de controle social” [8]. Segundo o medievalista russo Aaron Gurevitch: “o homem da Idade Média era inclinado a confundir o plano espiritual e
o plano físico e a explicar o ideal nos mesmos termos que o material. Ele não
concebia a abstração enquanto tal, quer dizer, fora de sua encarnação concreta
visível”.[9] Os nominalistas negavam a existência das coisas universais reconhecendo
apenas as coisas individuais. Para Petrus Aureolus: “Tudo é singular por si próprio, e não por qualquer outra coisa” (omnis res est se ipsa singularis et per
nihil aliud).[10]
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