domingo, 9 de agosto de 2020

Colbert e o mercantilismo

 

A reforma das corporações de ofícios implementada por Colbert (1619-1683) fixava o número de mestres, a duração do aprendizado, as horas de trabalho e até o horário das refeições[1]. A fiscalização ficava a cargo dos inspecteurs des manufactures responsáveis pela aplicação de pensas severas aos infratores[2].  Com Colbert a indústria manufatureira era mantida sobre rigoroso controle através de uma minuciosa regulamentação que prescrevia quase todos os detalhes do processo de manufatura.[3] Em 1671, por exemplo, Colbert concede um privilégio a Pierre Guichard para manufatura de algodão e fio tendo para tanto contratado artesãos estrangeiros[4]. Segundo Colbert somente a abundância de prata num  Estado faz a diferença de sua grandeza e de seu poder e nesse sentido as guerras dos holandeses na conquista de minas de prata e o desenvolvimento de sua indústria fez-se em detrimento do poder francês de modo que “é fácil concluir que quanto mais pudermos suprimir os ganhos que os holandeses obtém sobre os súditos do rei e o consumo de mercadorias que nos trazem, tanto mais aumentaremos a prata corrente que deve entrar no reino por meio de nossos gêneros necessários e tanto mais aumentaremos o poder, a grandeza e a abundância do Estado”, para tanto fundamental é o investimento na construção naval para reforçar o poderia militar.[5]  De 1672 a 1678 a França aliada com a Inglaterra empreendeu guerra contra a Holanda. Luís XIV não conseguiu alcançar seus objetivos iniciais, mas a França terminou o conflito como a grande potência militar europeia. Para Paul Mantoux a política e fomento industrial de Colbert com uma ação indutora decisiva do Estado tendo por base a concessão de privilégios se aproxima da experiência inglesa do século XVII com a concessão de privilégios reais, supressão da concorrência interna mediante medidas legislativas e politica protecionista. Tais políticas, segundo Paul Mantoux, fomentaram um desenvolvimento artificial que conduziria à ruína tão logo tais privilégios foram subtraídos e que se contrapõe a era da grande indústria[6]. Carroll Quigley destaca que os códigos de ofícios publicados por Colbert entre 1666 a 1730 continha sete volumes de 2200 páginas descrevendo cada detalhe as técnicas de fabricação tendo como objetivo proscrever as inovações.[7]

[1]WILHELM, Jacques. Paris no tempo do rei sol: a vida cotidiana, São Paulo:Cia das Letras, 1988, p. 68

[2]GIRARDET, Raoul. Histoire – Le fin du moyen age et les temps modernes, Paris:Fernand Nathan, 1965, p.314, 320

[3]BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1959, p.502

[4]DEYON, Pierre. O mercantilismo, São Paulo: Perspectiva, 1985, p.95

[5]DEYON, Pierre. O mercantilismo, São Paulo: Perspectiva, 1985, p.99

[6]MANTOUX, Paul. A revolução industrial no seculo XVIII, São Paulo:Unesp, p.9

[7]QUIGLEY, Carroll. A evolução das civilizações, Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961, p.274


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