Para Jacques Le Goff: “Decerto não há outro setor da vida medieval
em que o horror às novidades, característico da mentalidade da época, tenha
agido com maior força antiprogressista do que na técnica. Nesse setor, inovar
era, mais do que em nenhum outro, uma monstruosidade, um pecado. Colocava em
perigo o equilíbrio econômico, social e mental. E, como veremos, as inovações
que beneficiassem o senhor esbarravam na resistência, violenta ou passiva, das
massas”.[1] Para
Jacques le Goff na mentalidade medieval inovação é pecado, as invenções são
imorais, uma afronta às autoridades do passado de uma sociedade tradicional em
que “a verdade é o segredo transmitido de
geração em geração”[2].
As técnicas eram mantidas em segredo e mesmo em tratados técnicos como o escrito
pelo monge alemão Teophile ao escrever De
diversis artibus no século XII ele o faz para exaltar o dom dos artesãos do
que propriamente em difundir tais técnicas, na medida em que não as revela com
suficiência descritiva para sua reprodução. Em Veneza em 1525 quando o Senado
decide sobre a construção de uma embarcação rejeita os planos de um mestre
artesão em favor de um projeto de quinquerreme imitação dos modelos romanos
apresentado por Faustus.[3] Para George Sarton “o temor às novidades
foi uma característica da Idade Média”. No árabe o termo bid’a significa
novidade, mas também heresia, mesma conotação que assume o espanhol novedad. O latim novitas, por outro lado, não admite este sentido de heresia.[4] Por outro lado Paolo Rossi mostra que a revolução científica do século XVII irá
enfatizar sua obra como algo novo como se observa com frequência nos títulos do
Novum Organum de Francis Bacon, Nova de universis filosofia de
Francisco Patrizi, Astronomia Nova de Kepler e Discorsi intorno a due
nuove scienze de Galileu.[5]
[1]LE GOFF, Jacques. A
civilização do Ocidente Medieval. Rio de Janeiro:Vozes, 2016, p. 185
[2]LE GOFF, Jacques. A
civilização do Ocidente Medieval. Rio de Janeiro:Vozes, 2016, p. 316
[3]PERNOUD, Régine. Idade
Média: o que não nos ensinaram, Rio de Janeiro:Agir, 1994, p. 23
[4]SARTON, George. Six wings, men of science in the Renaissance,
Bloomington: Indiana University Press, 1957, p. 4
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