terça-feira, 18 de agosto de 2020

A busca da novidade

 

Para Jacques Le Goff: “Decerto não há outro setor da vida medieval em que o horror às novidades, característico da mentalidade da época, tenha agido com maior força antiprogressista do que na técnica. Nesse setor, inovar era, mais do que em nenhum outro, uma monstruosidade, um pecado. Colocava em perigo o equilíbrio econômico, social e mental. E, como veremos, as inovações que beneficiassem o senhor esbarravam na resistência, violenta ou passiva, das massas”.[1] Para Jacques le Goff na mentalidade medieval inovação é pecado, as invenções são imorais, uma afronta às autoridades do passado de uma sociedade tradicional em que “a verdade é o segredo transmitido de geração em geração”[2]. As técnicas eram mantidas em segredo e mesmo em tratados técnicos como o escrito pelo monge alemão Teophile ao escrever De diversis artibus no século XII ele o faz para exaltar o dom dos artesãos do que propriamente em difundir tais técnicas, na medida em que não as revela com suficiência descritiva para sua reprodução. Em Veneza em 1525 quando o Senado decide sobre a construção de uma embarcação rejeita os planos de um mestre artesão em favor de um projeto de quinquerreme imitação dos modelos romanos apresentado por Faustus.[3] Para George Sarton “o temor às novidades foi uma característica da Idade Média”. No árabe o termo bid’a significa novidade, mas também heresia, mesma conotação que assume o espanhol novedad. O latim novitas, por outro lado, não admite este sentido de heresia.[4] Por outro lado Paolo Rossi mostra que a revolução científica do século XVII irá enfatizar sua obra como algo novo como se observa com frequência nos títulos do Novum Organum de Francis Bacon, Nova de universis filosofia de Francisco Patrizi, Astronomia Nova de Kepler e Discorsi intorno a due nuove scienze de Galileu.[5]



[1]LE GOFF, Jacques. A civilização do Ocidente Medieval. Rio de Janeiro:Vozes, 2016, p. 185

[2]LE GOFF, Jacques. A civilização do Ocidente Medieval. Rio de Janeiro:Vozes, 2016, p. 316

[3]PERNOUD, Régine. Idade Média: o que não nos ensinaram, Rio de Janeiro:Agir, 1994, p. 23

[4]SARTON, George. Six wings, men of science in the Renaissance, Bloomington: Indiana University Press, 1957, p. 4

[4]ROSSI, Paolo. O nascimento da ciência moderna na Europa, Bauru:Edusc, 2001, p. 13


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