sábado, 18 de julho de 2020

Tetratkys


Um tetraktys ou tétrade é uma representação pitagórica na forma de um triângulo, denominado "triângulo perfeito". Para os pitagóricos, os números mantinham uma relação direta com a matéria, considerando, por exemplo, o número "um" como um ponto, o "dois" como uma reta, "três" uma superfície e o "quatro" uma pirâmide sólida[1]. As sequências dos pontos nas quatro fileiras formam a representação geométrica do quarto número triangular. Assumindo que 1 + 2 + 3 + 4 = 10, o número "dez" era visto como uma espécie de conjunto de quatro elementos, o "alicerce" das coisas do mundo correspondendo a um tetraktys. Para os pitagóricos tudo descende do tetraktys, isto é, do quaternário,[2] símbolo primário da filosofia pitagórica que representa a criação a partir do qual o universo e todas as coisas surgiram.[3] A forma triangular da tetrakys representa a progressão aritmética da criação do abstrato ao concreto. O lado esquerdo do triângulo, 1,2,4,8 representa o movimento da vida a partir da unidade enquanto que o lado direito 27, 9, 3 e 1 mostra a elevação da consciência e o retorno à unidade absoluta[4]. Segundo a descrição de Teon de Esmirna do século II os primeiros quatro números 1, 2, 3 e 4 cuja soma é igual a 10, o mais perfeito dos números, simboliza a harmonia das esferas em que o 4 representa o cosmos: “quando chegamos a ele reduzimos tudo à mônada outra vez e começamos a contar de novo”.[5] Para Teon de Smirna “os números são as fontes da forma e da energia no mundo. São dinâmicos e ativos inclusive entre eles, quase humanos em sua capacidade de influência mútua”.[6] Os intervalos musicais, possuem afinidade com a tetrakys como um princípio de divisão: 4:3 (a quarta), 3:2 (a quinta), 2:1 (a oitava)[7] e a dupla oitava (4:1).[8] Uma quarta e uma quinta juntas constituem uma oitava 4/3 * 3/2 = 2/1. Jamblico mostra que a consonâncias musicais propostas por Pitágoras foram o resultado da experimentação com o som de martelos usados nas forjas, o que mostra que seu misticismo tinha bases empíricas[9]. Segundo José Cavalcante de Souza: “os números são seriam, portanto – como virão a ser mais tarde – meros símbolos a exprimir o valor das grandezas, para os pitagóricos, eles são reais, são própria alma das coisas, são entidades corpóreas constituídas pelas unidades contíguas’ [10]


[1] MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo: desde Aristóteles até os neoplatônicos, São Paulo: Mestre Jou, 1973, p. 74
[2] LÉVI, Éliphas. História da magia, São Paulo:Pensamento, 2010, p.80
[3] CAMPBELL, Joseph. O poder do mito. São Paulo:Palas Atena, 1990, p.29
[4] MALKOWSKI, Edward. O Egito antes dos faraós. São Paulo:Cultrix, 2010, p. 262
[5] GORMAN, Peter. Pitágoras, uma vida, São Paulo:Círculo do Livro, 1993, p. 146
[6] LAWLOR, Robert. Geometria sagrada, Lisboa:Edições del Prado, 1996, p.14
[7] RUSSELL, Bertrand. História do pensamento ocidental, Rio de Janeiro:Nova Fronteira,2016, p.30; https://quadriformisratio.wordpress.com/page/3/
[8] GORMAN, Peter. Pitágoras, uma vida, São Paulo:Círculo do Livro, 1993, p. 165
[9] GORMAN, Peter. Pitágoras, uma vida, São Paulo:Círculo do Livro, 1993, p. 186; MLODINOW, Leonard. De primatas a astronautas, Rio de Janeiro: Zahar, 2015, p.90
[10] SOUZA, José Cavalcante. Os pré socráticos: fragmentos, doxografia e comentários. Coleção os pensadores, São Paulo: Abril Cultural, 1985, 
p. XVIII


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