Para os estoicos dentro de uma concepção animista e
teleológica as almas individuais são uma parte da alma universal do mundo de
modo que todas as coisas tem uma relação umas com as outras. [1] O
imperador estoico Marco Aurélio na sua obra Meditações destaca os traços de uma
individualidade com origem nos gregos.[2] A máxima
estoica era a de viver em harmonia com a natureza. Julio Capitolino descreve o
período em que Marco Aurélio foi imperador como uma época em que “Todos os homens são irmãos, cada um por si
mesmo é cidadão no mundo [;..] Durante seu reinado o povo gozou de tanta
liberdade como nos tempos da República, mantinha, em todos os assuntos, uma
extraordinária moderação para afastar os homens do mal e animá-los na prática do
bem, premiando-os abundantemente tratando-os com indulgência, dentro da severidade
das leis”. [3] Apesar disso Mario Giordani lembra que sob o
reinado de Marco Aurélio não foi revogada as leis que perseguiam os cristãos
mantendo-a “talvez com uma dose maior de
inflexibilidade desdenhosa”.[4] Os
estoicos divinizaram a natureza na medida em que defendiam a presença de um
espirito – pneuma, a “alma do mundo”, que permearia o mundo
natural, e que penetraria todos os corpos e preencheria todos os espaços, como
força dinamizadora do cosmos[5],
antecipando o conceito de “éter” que
seria retomado no século XVII com Descartes, Boyle e Newton ou o “fluido magnético” de Mesmer condutor de
uma “simpatia universal” entre os
corpos.[6] Charles
Singer aponta a filosofia romana do estoicismo e o apreço pela retórica, a
aceitação resignada do destino regido por forças dos astros, como as razões
para o desprezo dos romanos pelas questões científicas.[7]. George
Sarton também aponta que os estoicos dedicaram pouca atenção à ciência e
favoreceram a adivinhação (manteia) e
a astrologia. [8]
Segundo os estoicos, os astros quando em seu movimento retornam ao mesmo signo
e posição que se encontravam no início do universo neste momento se realiza uma
conflagração e destruição de seres com o retorno à ordem cósmica original,
reiniciando-se do a história do universo tal como já acontece. E tal retorno
universal ocorre não apenas uma vez mas diversas vezes e assim as coisas voltarão
ao infinito e sem termo, ou seja o estoicismo não traz o conceito de progresso contínuo
mas o de uma lei de eterno retorno[9] Moses
Finley aponta contradições na doutrina estoica que ao mesmo tempo em que realça
a astrologia de outra parte fez importantes contribuições à teoria física[10]. G.
Lloyd destaca que embora possa se
encontrar no estoicismo alguns dos conceitos modernos da física posterior como
o de campo de força, os estoicos adotavam uma abordagem puramente filosófica
sem o recurso a recursos matemáticos e não relacionado com a prova
experimental.[11]
Paulo Abrantes, contudo, propõe que os estoicos foram uma influência importante
no desenvolvimento da ciência do século XVII na medida em que unificavam a física,
a lógica e a moral sob o mesmo logos e eliminavam a distinção entre mundos sub
e supra lanar fazendo a pneuma se estender por todo o cosmo.[12]
[1] HOOYKAAS, R.. A
religião e o desenvolvimento da ciência moderna. Brasília:UNB,
1988, p.24
[2] HALL, Edith. The ancient greeks, London:Vintage, 2015, p.8
[3] GIORDANI, Mario Curtis.
História de Roma, Rio de Janeiro:Vozes, 1981, p. 70
[4] GIORDANI, Mario Curtis.
História de Roma, Rio de Janeiro:Vozes, 1981, p. 338
[5] ABRANTES, Paulo.
Imagens de natureza, imagens de ciência, Campinas:Papirus, 1998, p.46
[6] ABRANTES, Paulo.
Imagens de natureza, imagens de ciência, Campinas:Papirus, 1998, p.50, 126
[7] SINGER, Charles. From magic to science. New York:Dover, 1958, p.7, 82
[8]
SARTON, George. Historia de la ciência, Buenos Aires:Editorial
Universitaria Buenos Aires, 1959, p. 168
[9]
MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo: desde Aristóteles até os neoplatônicos,
São Paulo: Mestre Jou, 1973, p. 105
[10]
FINLEY, Moses. Los griegos de la antiguedad. Barcelona: Editorial Labor, 1966,
p. 189
[11] LLOYD, G. Ciência e
matemática. In: In: FINLEY, Moses. O legado da Grécia. Brasília: UNB, 1998, p.
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