Segundo Cesare Cantu: “espalhando-se no meio de gentes rústicas, os sacerdotes encontram-nas ocupadas em satisfazer as necessidades e os diversos empregos da vida material, de modo que só eles ficam com o privilégio do saber, que só eles têm tempo de cultivar, são astrônomos, físicos, médicos e historiadores. Eis porque, ao princípio, as ciências se apresentam sob o aspecto religioso; os germes da civilização propagam-se sob o veu das cosmogenias religiosas [...] Porém, poucos homens sabem resistir à tentação do poder. Conhecendo quanto a ciência e o culto tornam superiores ao vulgo, os sacerdotes pensam em só lhes comunicar o que precisam para conservar a sua supremacia e cobrem o resto com um veu espesso. Então os mitos cosmogênicos, de simples que eram, tornam-se múltiplos e complicados; os conhecimentos, entregues à fé implícita dos contemporâneos, como verdades absolutas, são depositados nos símbolos, a tradição primitiva é abafada cada vez mais e obscuras metáforas, caracteres misteriosos e expressões enigmáticas confundem a inteligência e perturbam a consciência. Daí provém as duas doutrinas, uma esotérica, interior e secreta, mais próxima da verdade, porém muitas vezes manchada por práticas mágicas; outra exotérica que, auxiliando a disposição da multidão para deificar a natureza, abusa das imagens, mistura as ideias do mundo visível às do mundo moral”.[1] Moses Finlay observa que a palavra grega para designar o sacerdote era hiereus que se aplicava ao que hoje poderíamos chamar de leigo, um secular, uma vez que entre os gregos os sacerdotes eram meros funcionários do Estado encarregados dos rituais. A maior parte da legislação de Sólon, por exemplo, trazia detalhes concernentes aos sacrifícios a serem executados pelos sacerdotes. [2]
[1] CANTU, Cesare. História Universal, v. II, São Paulo:Editora das Américas, 1958, p.103
[2]FINLEY, Moses. Los griegos de la antiguedad. Barcelona: Editorial Labor, 1966, p. 50
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