Os incas, que não
conheciam a escrita[1],
usavam o quipu / kipu um cordão cheio de nós usados para fazer contas útil na
cobrança de impostos [2] bem como
na quantidade de bens armazenados nos silos[3], o qual
Huber e Thorndike atribuem origem chinesa[4]. O
conceito de zero era subentendido no quipu.[5] Os
sacerdotes incas eram responsáveis pela interpretação das leis do culto bem
como do gerenciamento e distribuição dos bens armazenados nos armazéns
relativos aos tributos pagos ao deus Sol.[6] Montesinos
relata uma lenda em que no passado o imperador inca havia queimado vivo o amauta
que teria inventado a escrita e proibido o uso de letras, porém esta versão não
é confirmada em outros testemunhos[7]. Henri
Favre relata que esta hipótese de Montesinos não faz sentido, imaginar que a
invenção da escrita teria sido abandonada sob o reinado dos soberanos de Cusco[8]. Se os
incas quisessem empregar a escrita não teria lhes faltado matéria prima pois o
agave, planta empregada na fabricação de fibras têxteis, era abundante da
região. Humboldt relata ter encontrado sob as margens do rio Ucayali cadernos
de pinturas de folhas de agave[9]. Garcilaso
de la Veja ao falar da falta de notícias sobre o inca Viracocha relata “é
uma lástima, que por falta de letras morressem e se enterrassem com eles mesmos
os feitos de homens tão valorosos”. Guaman Poma de Ayala em sua obra bilíngue
escrita em espanhol e quéchua chamada “El primer y nueva cronica y buen
gobierno” diz que “os índios não conheciam as letras e nem escrita alguma”.
Fundamentos de uma proto escrita foram encontrados em pedras e telhas (tejas
peruanas) que podem ter funcionar como assinaturas pessoais pintadas na
cultura de Paracas, Nazca, Tiahuanaco, Ica e Inka. Outros vestígios incluem uma
espécie de broto de feijão (pallares) em que aparecem raias paralelas em
formas variadas na cultura mochica, e as linhas marcadas no solo em Nazca. O fundador
do Museo Arqueológico de la Universidad Mayor de San Simón, Dick Ibarra Grasso,
descobriu o que acredita ser os primeiros vestígios de escrita ideográfica inca
em 1940 numa região próxima ao Lago Titicaca em Copacabana fez publicação em
1953. Outras descobertas foram feitas em San Lucas, Chuquisaca, por Osvaldo
Sánchez Terrazas. [10] Segundo
Ibara Grasso o padre Ibara Acosta pode estar se referindo a este escrita quando
escreve: “fora estes quipus de fio tem eles estas pedrinhas, por onde aprendem
as palavras que querem tomar de memória, e é emocionante ver uma roda de anciãos
em torna destas pedrinhas para aprender o pai nosso”. Segundo Victoria de
la Jara a verdadeira escrita inca era feito em tecido da cultura Paracas, os tocapus,
usando ideogramas em formato quadrado ou em vasos cerimoniais de cerâmica
chamados keros. [11] Os tocapus, adornos geométricos usados nas
vestes dos soberanos incas ou nas superfícies de vasos de madeira rituais
denominados queros não podem, contudo,
ser entendidos como uma forma de escrita mas meros ideogramas.[12]
[1] BAUDIN, Louis. El
império socialista de los incas, Santiago Chile:Ediciones Rodas, 1973, p.43;
CLARK, Grahame. A pré história, Rio de Janeiro:Zahar, 1975, p. 278; FAVRE,
Henri. A civilização inca, Rio de Janeiro: Zahar, 1987, p.72
[2] TERESI, Dick. Descobertas
perdidas, São Paulo:Cia das Letras, 2008, p.334; BAITY, Elizabeth Chesley. A
América antes de Colombo. Belo Horizonte:Itatiaia, 1963, p.181; CHAUNU, Pierre.
A América e as Américas, Rio de Janeiro:Cosmos, 1969, p.70; IFRAH, Georges. Os
números: a história de uma grande invenção. Rio de Janeiro: Globo, 1989, p.
100; MEGGERS, Betty. América pré histórica. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979,
p. 1290
[3] BRONOWSKI, J. A
escalada do homen, São Paulo:Martins Fontes, 1979, p.101
[4] HUBER, Siegfried. O
segredo dos incas, Belo Horizonte: Itatiaia, 1964, p. 15; THORNDIKE, Lynn. A History of magic and experimental science, v.I, Columbia University
Press, 1923, p.7
[5] FAVRE, Henri. A
civilização inca, Rio de Janeiro: Zahar, 1987, p.78
[6] BAUDIN, Louis. A vida
quotidiana dos últimos incas, Lisboa:Ed. Livros do Brasil, p. 147
[7] BAUDIN, Louis. El
império socialista de los incas, Santiago Chile:Ediciones Rodas, 1973, p.251;
BAUDIN, Louis. A vida quotidiana dos últimos incas, Lisboa:Ed. Livros do
Brasil, p. 36, 193
[8] FAVRE, Henri. A
civilização inca, Rio de Janeiro: Zahar, 1987, p.72
[9] BAUDIN, Louis. El
império socialista de los incas, Santiago Chile:Ediciones Rodas, 1973, p.273
[10]
La Verdadera Escritura Aymara, de José Huidobro Bellido, Freddy Arce Helguero e
Pascual Quispe Condori, Ed. Producciones CIMA, La Paz, Bolívia, 1994, La
Verdadera Historia de los Incas, de Dick Ibarra Grasso, Editorial Los Amigos
del Libro, La Paz / Cochabamba, 1978 https://anteriorportal.erbol.com.bo/noticia/cultura/03032013/incas_tenian_escritura_y_se_leia_circulatoriamente
[11]
CHIAPERO, Branka Maria Tanodi. Escrituras americanas pré-colombianas de los
Andes Centrales, http://institucional.us.es/revistas/historia/21/12%20tanodi.pdf
[12] SORIANO, Waldemar. Los
incas: economia sociedade y estado em la era del Tahuantinsuyo, Peru:Amaru Editores,
1997, p. 407
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