sábado, 18 de julho de 2020

Escrita inca ?


Os incas, que não conheciam a escrita[1], usavam o quipu / kipu um cordão cheio de nós usados para fazer contas útil na cobrança de impostos [2] bem como na quantidade de bens armazenados nos silos[3], o qual Huber e Thorndike atribuem origem chinesa[4]. O conceito de zero era subentendido no quipu.[5] Os sacerdotes incas eram responsáveis pela interpretação das leis do culto bem como do gerenciamento e distribuição dos bens armazenados nos armazéns relativos aos tributos pagos ao deus Sol.[6] Montesinos relata uma lenda em que no passado o imperador inca havia queimado vivo o amauta que teria inventado a escrita e proibido o uso de letras, porém esta versão não é confirmada em outros testemunhos[7]. Henri Favre relata que esta hipótese de Montesinos não faz sentido, imaginar que a invenção da escrita teria sido abandonada sob o reinado dos soberanos de Cusco[8]. Se os incas quisessem empregar a escrita não teria lhes faltado matéria prima pois o agave, planta empregada na fabricação de fibras têxteis, era abundante da região. Humboldt relata ter encontrado sob as margens do rio Ucayali cadernos de pinturas de folhas de agave[9]. Garcilaso de la Veja ao falar da falta de notícias sobre o inca Viracocha relata “é uma lástima, que por falta de letras morressem e se enterrassem com eles mesmos os feitos de homens tão valorosos”. Guaman Poma de Ayala em sua obra bilíngue escrita em espanhol e quéchua chamada “El primer y nueva cronica y buen gobierno” diz que “os índios não conheciam as letras e nem escrita alguma”. Fundamentos de uma proto escrita foram encontrados em pedras e telhas (tejas peruanas) que podem ter funcionar como assinaturas pessoais pintadas na cultura de Paracas, Nazca, Tiahuanaco, Ica e Inka. Outros vestígios incluem uma espécie de broto de feijão (pallares) em que aparecem raias paralelas em formas variadas na cultura mochica, e as linhas marcadas no solo em Nazca. O fundador do Museo Arqueológico de la Universidad Mayor de San Simón, Dick Ibarra Grasso, descobriu o que acredita ser os primeiros vestígios de escrita ideográfica inca em 1940 numa região próxima ao Lago Titicaca em Copacabana fez publicação em 1953. Outras descobertas foram feitas em San Lucas, Chuquisaca, por Osvaldo Sánchez Terrazas. [10] Segundo Ibara Grasso o padre Ibara Acosta pode estar se referindo a este escrita quando escreve: “fora estes quipus de fio tem eles estas pedrinhas, por onde aprendem as palavras que querem tomar de memória, e é emocionante ver uma roda de anciãos em torna destas pedrinhas para aprender o pai nosso”. Segundo Victoria de la Jara a verdadeira escrita inca era feito em tecido da cultura Paracas, os tocapus, usando ideogramas em formato quadrado ou em vasos cerimoniais de cerâmica chamados keros.  [11] Os tocapus, adornos geométricos usados nas vestes dos soberanos incas ou nas superfícies de vasos de madeira rituais denominados queros não podem, contudo, ser entendidos como uma forma de escrita mas meros ideogramas.[12]  


[1] BAUDIN, Louis. El império socialista de los incas, Santiago Chile:Ediciones Rodas, 1973, p.43; CLARK, Grahame. A pré história, Rio de Janeiro:Zahar, 1975, p. 278; FAVRE, Henri. A civilização inca, Rio de Janeiro: Zahar, 1987, p.72
[2] TERESI, Dick. Descobertas perdidas, São Paulo:Cia das Letras, 2008, p.334; BAITY, Elizabeth Chesley. A América antes de Colombo. Belo Horizonte:Itatiaia, 1963, p.181; CHAUNU, Pierre. A América e as Américas, Rio de Janeiro:Cosmos, 1969, p.70; IFRAH, Georges. Os números: a história de uma grande invenção. Rio de Janeiro: Globo, 1989, p. 100; MEGGERS, Betty. América pré histórica. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979, p. 1290
[3] BRONOWSKI, J. A escalada do homen, São Paulo:Martins Fontes, 1979, p.101
[4] HUBER, Siegfried. O segredo dos incas, Belo Horizonte: Itatiaia, 1964, p. 15; THORNDIKE, Lynn. A History of magic and experimental science, v.I, Columbia University Press, 1923, p.7
[5] FAVRE, Henri. A civilização inca, Rio de Janeiro: Zahar, 1987, p.78
[6] BAUDIN, Louis. A vida quotidiana dos últimos incas, Lisboa:Ed. Livros do Brasil, p. 147
[7] BAUDIN, Louis. El império socialista de los incas, Santiago Chile:Ediciones Rodas, 1973, p.251; BAUDIN, Louis. A vida quotidiana dos últimos incas, Lisboa:Ed. Livros do Brasil, p. 36, 193
[8] FAVRE, Henri. A civilização inca, Rio de Janeiro: Zahar, 1987, p.72
[9] BAUDIN, Louis. El império socialista de los incas, Santiago Chile:Ediciones Rodas, 1973, p.273
[10] La Verdadera Escritura Aymara, de José Huidobro Bellido, Freddy Arce Helguero e Pascual Quispe Condori, Ed. Producciones CIMA, La Paz, Bolívia, 1994, La Verdadera Historia de los Incas, de Dick Ibarra Grasso, Editorial Los Amigos del Libro, La Paz / Cochabamba, 1978 https://anteriorportal.erbol.com.bo/noticia/cultura/03032013/incas_tenian_escritura_y_se_leia_circulatoriamente
[11] CHIAPERO, Branka Maria Tanodi. Escrituras americanas pré-colombianas de los Andes Centrales, http://institucional.us.es/revistas/historia/21/12%20tanodi.pdf
[12] SORIANO, Waldemar. Los incas: economia sociedade y estado em la era del Tahuantinsuyo, Peru:Amaru Editores, 1997, p. 407


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