Mesmo entre os próprios alquimistas as controvérsias se tornavam públicas. Jean Riolan envolveu-se em controvérsias com Josephus Michelius de Luca e Nicolas Guibert autor de um tratado contra a alquimia de1603 Alchymia ratione et experientia ita demum viriliter impugnata et expugnata. Libânio em seu livro Alchemia de 1597 tentara em vão estabelecer alguma ordem em meio ao caos de doutrinas alquímicas divergentes.[1]Robert Boyle em The sceptical chymistde 1661 ridiculariza a doutrina já desgastada dos quatro elementos e das qualidades ocultas preconizada pelos alquimistas e por Aristóteles[2], insistindo que o termo “elemento” fosse reservado às substâncias irredutíveis e se fizesse uma distinção bem nítida entre “elementos” e “compostos”.[3]Apesar desta crítica o personagem do livro Temístio, representante do aristotelismo descreve as ideias de Aristóteles formando um todo consistente a abrangente onde “cada uma das pedras está suficientemente amarrada pela soidez e inteireza de toda a estrutura de que faz parte”. [4]Robert Boyle opõem-se aos antigos conceitos escolásticos e de Paracelso aproximando-se mais das ideias de van Helmont do que das de Lavoisier[5]. A proposta de Boyle, contudo, não teve rápida adesão, pois substituía uma elegante doutrina por uma multiplicidade de elementos sem ter claro os meios de investigação analítica. A teoria seria reanimada apenas um século depois com Lavoisier.[6]Para Robert Boyle, hábil experimentador em química[7], princípios incomensuráveis da alquimia como “enxofre”, “mercúrio” e “sal” de Paracelso são subjetivos e não se prestam a análise química dos compostos pois não são homogêneos para que posam ser considerados unidades fundamentais da matéria. Na obra anterior Certain Phyiological Essays do mesmo ano de 1661, Boyle já deixava claro seu apoio a teoria da matéria como partículas que então estava substituindo a visão aristotélica da função conjunta da matéria e da forma, presente em expressões como “forma de calor”, “virtude dormitiva do ópio”. Segundo Ana Goldfardb: “será, principalmente, a partir do trabalho de Sir Robert Boyle que a química iniciará seu complexo, processo de incorporação como teoria científica independente junto à nova filosofia natural, pois com ele o elán hermético que envolvia o estudo da micro matéria começa a ser rompido”. [8]
[1] SARTON, George. Six wings, men of science in the Renaissance, Bloomington: Indiana University Press, 1957, p. 115
[2] MLODINOW, Leonard. De primatas a astronautas, Rio de Janeiro: Zahar, 2015, p.195
[3] SEDGWICK, W.; TYLER, H; BIGELOW, R. História da ciência: desde a remota antiguidade até o alvorescer do século XX, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1952, p.264; RONAN, Colin. História Ilustrada da Ciência: Da Renascença à Revolução Científica. v.3, São Paulo:Jorge Zahar, 2001, p.121
[4] LLOYD, G. Ciência e matemática. In: FINLEY, Moses. O legado da Grécia. Brasília: UNB, 1998, p. 322
[5] TATON, René. A ciência moderna: o século XVII, tomo II, v.2, São Paulo:Difusão, 1960, p.163
[6] SINGER, Charles; HOLMYARD, E. A history of technology, v.IV, Oxford, 1958, p.215
[7] GILLISPIE, Charles. Dicionário de biografias científicas, Rio de Janeiro:Contraponto, 2007, p. 335
[8] GOLDFARB, Da alquimia à química, Sâo Paulo:Edusp, 1987, p.182
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