sexta-feira, 19 de junho de 2020

Jesuítas e cometas



Muitos relatos dos jesuítas são permeados de superstições. Robert Southey descreve que “é difícil as vezes nas suas crônicas distinguir os efeitos da credulidade e imaginação dos da falsidade deliberada: é que jamais lhes parecia reprovado o engano que devia reproduzir um fim pio, ou causar uma boa impressão segundo ideias deles”.[1]Frei Valentine Extancel célebre astrólogo da Companhia de Jesus atribui a ocorrência de pestes no Brasil como previstos por eclipses.[2] Em 1686 a imagem de São Francisco Xavier (1506-1552) foi conduzida em procissão para por termo à febre amarela que atingia a cidade.[3] O aparecimento de cometas, como o que cruzou o Brasil em 1666, era considerado um mau presságio para as colheitas. O cometo foi descoberto em 15 de agosto no Pará por padres jesuítas. Este cometa está descrito nos versos do poeta Gregório de Matos que o teria observado na Bahia[4]: “Se é estéril, e fomes dá o cometa, Não fica no Brasil viva criatura, Mas ensina do juízo a Escritura, Cometa não o dar, senão trombeta. / Não creio que tais fomes nos prometa. Uma estrela barbada em tanta altura, Prometerá talvez, e porventura Matar quatro saiões de imperialeta. / Se viera o cometa por coroas, Como presume muita gente tonta, Não lhe ficar clérigo, nem frade, Mas ele vem buscar certas pessoas: Os que roubam o mundo com a vergonha, E os que à justiça falta, e à verdade”. Rocha Pita atribuía peste da varíola a passagem de um “horroroso cometa”. Em 1685 registra um “tremendo eclipse da lua, que naquela província da Bahia se viu com horror”.[5]Em Pernambuco o médico João Ferreira da Rosa no Tratado Único da Constituição Pestilencial de Pernambuco descreve em 1685 uma infecção contagiosa, que teria sido desencadeada a partir de um eclipses e da disposição dos planetas, o que teria sido a primeira descrição de febre amarela no Brasil[6].O padre Antonio Vieira dedicou um de seus sermões em 1695 ao cometa Jacob e se intitula: “Voz de Deus ao mundo, a Portugal e a Bahia. Juízo do cometa e visto em 27 de outubro de 1695 e continua ate hoje”. [7]
[1] SOUTHEY, Robert. História do Brasil, Brasília: Melhoramentos, 1977, v.2, p. 165
[2] SOUTHEY, Robert. História do Brasil, Brasília: Melhoramentos, 1977, v.2, p. 335
[3] SOUTHEY, Robert. História do Brasil, Brasília: Melhoramentos, 1977, v.2, p. 336
[4]MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Dicionário Enciclopédico de astronomia e astronáutica, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986, p. 187
[5] PRIORE, Mary del. Histórias da gente brasileira, Vol. 1 Colônia. Rio de Janeiro:Leya, 2016, p. 158
[6] CAMENIETZKI, Carlos Ziller.Quando o ceu era perfeito. Revista de História da Biblioteca Nacional, n.75, dezembro 2011, p. 21; CUKIERMAN, Henrique. Yes, nós temos Pasteur. Rio de Janeiro: Faperj,2007, p. 172
[7] MOURÃO, Ronaldo Freitas. Dicionário Enciclopédico de astronomia e astronáutica, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987, p. 842

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Doação de Constantino

  Marc Bloch observa a ocorrência de falsificações piedosas tais como a pseudo doação de Constantino ( Constitutum Donatio Constantini ) ao ...