Manoel Albuquerqye observa que a divisão social do trabalho nos engenhos, sobretudo com as etapas especializadas conferiam à unidade social açucareira uma grande autosuficiência que fortalecida pela hierarquização entre senhores de engenho e escravos determinava uma falsa impressão de tratar-se de uma estrutura feudal[1]. A presença de uma divisão do trabalho no engenho de açúcar em tarefas tão especializados tornam o engenho, segundo Stuart Schwartz “precursor da fábrica moderna”[2] opinião compartilhada por Edgar Decca[3]. Para Marcos Costa: “O açúcar foi um dos primeiros produtos industrializados em grande escala na história do mundo moderno. A sua produção envolvia uma sofisticada racionalização do trabalho, levado a cabo por máquinas modernas que implicavam até então inédita transformação da natureza. Fora o trabalho escravo, todos os requisitos da Revolução Industrial estavam ali presentes. O capitalismo, o liberalismo econômico, o livro comércio e todas as teorias surgidas noséculos XVI e XVII tiveram como grande laboratório e como vertente o Brasil”.[4] Esta especialização não viria a meramente atender uma demanda tecnológica, mas ao contrário, seria determinada no sentido de garantir o controle do processo de produção pelo feitor. Segundo Alice Canabrava: “não se tratava apenas da elaboração de uma técnica de controle da rentabilidade do trabalho escravo, adaptada à sua mentalidade rudimentar, mas visava também vencer sua resistência passiva com respeito às tarefas impostas”.[5] Para Edgar Decca seria incorreto concluir que a não incorporação de novas técnicas no engenho se desse unicamente pela incapacidade intelectual do escravo em acompanhar tais avanços. Jorge Caldeira destaca que a especialização das tarefas nos engenhos se enquadra em uma dinâmica social complexa que não se limita as figuras do senhor de engenho e escravos.[6]
[1]ALBUQUERQUE, Manoel Maurício. Pequena história da formação social brasileira, Rio de Janeiro: Graal, 1981, p. 57
[2] SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: Cia das Letras, 1988, p. 138
[3] DECCA, Edgar de. O nascimento das fábricas, Coleção Tudo é história, n° 51 São Paulo:Brasiliense, 1986, p.10
[4] COSTA, Marcos. O livro obscuro do descobrimento do Brasi, Rio de Janeiro:Leya, 2019, p. 303
[5] DECCA, Edgar de. O nascimento das fábricas, Coleção Tudo é história, n° 51 São Paulo:Brasiliense, 1986, p.57
[6] CALDEIRA, Jorge. História do Brasil com empreendedores, São Paulo:Mameluco, 2009, p.195
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