quarta-feira, 10 de novembro de 2021

A hostilidade da Igreja às primeiras comunas

 

Guibert de Nogent no início do século XII aponta a hostilidade da alta burguesia contra as comunas[1] / commune segundo ele “uma palavra nova e detestável”[2]. Daniel Rops aponta a hostilidade do clero contra as comunas que olhava com desconfiança a ascensão de uma burguesia que procurava destituir a Igreja de seus bens e cobrava taxas comunais. Seguiram-se conclusões em Cremona (1030),em Parma, Mântua e Milão (1050), em Cambrai (1077), Beauvais (1099) e Laon (1212). Na Alemanha em Colônia os burgueses atacam os bens do bispo em 1263. Em Laon os burgueses compraram  o apoio do bispo local para que pudessem erigir a comuna, mas um motim se seguiu que levou ao esquartejamento do bispo Gaudry pelos populares[3]. O papa Inocêncio II em 1139  solicitou apoio de Luis VII contra as comunas em Reims. O prelado Jacques de Vitry as considerava “violentas e pestilentas”, “Babilônias modernas!”[4]. O exemplo das comunas se disseminou especialmente em Flandres e um século mais tarde na Renânia[5]. Gunnar Mickwitz enquadra as corporações de ofícios feudais como carteis destinados a eliminar a concorrência e frear a produção. Segundo Robert Fossier: “todos, quer se trate da lição da Igreja ou de uma visão prudente da economia, estão convencidos de que o objetivo indiscutível de seu esforço é o bem comum e a boa mercadoria, e que toda concorrência só pode ser uma fonte de violência e uma negação do querer divino”.[6] Diversas revoltas contra as autoridades feudais surgem em Cremona  (1030), Parma, Milão (1057), Mântua, Le Mans (1069), Cambrai (1077), Beauvais (1099), Laon (1112) e Saint Omer (1127)[7]. Cesare Cantu mostra que as corporações de ofícios estorvavam o comércio porque proibiam a compra e venda de produtos que não fossem marcados pelos guardas dos mestrados ou pesados pelos oficiais das comunas.[8] A excessiva subdivisão de ofícios previstas no texto de Étienne Boileau é sinal da debilidade da nova economia.[9] Em 1297 o Livre de la taille de Paris mostra mais de vinte ofícios de vestimentas no artesanato têxtil. [10]

[1] BLOCH, Marc. A sociedade feudal, Lisboa:Edições 70, 1982, p.393

[2] JANOTTI, Aldo. Origens da Universidade, São Paulo: Edusp,1992, p.38

[3] ROPS, Daniel. A Igreja das catedrais e das cruzadas. São Paulo: Quadrante, 2012, p. 234

[4] ROPS, Daniel. A Igreja das catedrais e das cruzadas. São Paulo: Quadrante, 2012, p. 235

[5] ANDERSON, Perry. Passagens da antiguidade ao feudalismo, Porto: Afrontamento, 1982, p. 218

[6] FOSSIER, Robert. As pessoas da idade média, Rio de Janeiro: Vozes, 2018, p. 202

[7] ELIAS, Norbert. O processo civilizador v.2, Rio de Janeiro: Zahar, 1990, p. 48

[8] CANTU, Cesare. História Universal, volume XIV, São Paulo:Editora das Américas, 1955, p. 93

[9] LE GOFF, Jacques. A civilização do Ocidente Medieval. Rio de Janeiro:Vozes, 2016, p. 69

[10] FOSSIER, Robert. O trabalho na idade média. Rio de Janeiro: Vozes, 2018, p. 124



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