terça-feira, 14 de setembro de 2021

A invenção do método de partidas dobradas, em contabilidade

 

Adelardo de Bath traduziu a o livro de Musa al Khwarizmi expondo a notação hindu mas esta tradução teve um alcance restrito entre os matemáticos de sua época, coube a Leonardo Fibonacci com seu livro Liber abaci (Livro dos ábacos) publicado em 1202 a difusão dos números hindu arábicos e sua aplicação em cálculos de contabilidade. O filho de comerciante e matemático de Pisa, Leonardo Fibonacci introduziu em 1202 o cálculo numérico posicional dos árabes.[1] Uma comunidade de banqueiros florentinos de 1299 estabeleceu em seus estatutos a proibição do uso de algarismos arábicos pelo risco de falsificação ao se anotar as somas de dinheiro. Uma explicação adicional para hesitação na sua utilização se encontra em um certo desprezo dos homens do Renascimento para com os árabes[2]. O desenvolvimento dos processos de contabilidade de “partidas dobradas” acabou impulsionando o uso do zero e dos algarismos árabes (os árabes denominavam o zero de çifr que no italiano foi traduzido para zéfiro e assumiu a forma latina zephiru segundo Leonardo Fibonacci que foi introdutor dos algarismos arábicos na Europa[3]) ao permitir cálculos mais fáceis e a contabilidade de dupla entrada com livro de contas registrando crédito, débito e o balanço.[4] O Método das Partidas Dobradas, ou Método Veneziano ("el modo de Vinegia") foi descrito pela primeira vez por Luca Pacioli (na figura) (1445-1517) no livro "Summa de Arithmetica” em 1494 tornando um dos primeiros livros impressos em matemática de ampla difusão.[5] O método era usado no registro de transações financeiras em que se usa diversas variáveis, chamadas contas, em que cada uma reflete um aspecto em particular do negócio como um valor monetário.[6] Charles Singer aponta a introdução dos números hindu arábicos como um fator fundamental para o surgimento da ciência no mundo ocidental.[7]



[1] GUICHARD, Pierre. Islã. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do Ocidente medieval. v.I, São Paulo:Unesp, 2017, p. 719

[2] BEAUJOUAN, Guy. Números. BEAUJOUAN, Guy. Números. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do Ocidente medieval. v.II, São Paulo:Unesp, 2017, p. 340

[3] PIMENTA, Reinaldo. A casa da mãe Joana. Rio de Janeiro: Campus, 2002, p. 244

[4] FOSSIER, Robert. O trabalho na idade média. Rio de Janeiro: Vozes, 2018, p. 204; MORTIMER, Ian. Séculos de transformações. Rio de Janeiro:DIFEL, 2018, p. 88; FOSSIER, Robert. As pessoas da idade média, Rio de Janeiro: Vozes, 2018, p. 252

[5] BARRETO, Elias. Enciclopédia das grandes invenções e descobertas. São Paulo:Cascino Editores, 1971, p.123; BERLINGHOFF, Wiliam; GOUVEA, Fernando. A matemática através dos tempos, São Paulo: Blucher, 2010, p. 34

[6] AQUINO, Felipe. Uma história que não é contada, Lorena: Cleofas, 2008, p. 180

[7] GIES, Frances & Joseph. Cathedral, forge and water wheel, New York:Harper Collins, 1994, p.227




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