segunda-feira, 13 de setembro de 2021

A idade medieval precursora da revolução científica

Segundo Ruy Afonso: “do ponto de vista educacional, o renascimento do século XII foi sobretudo literário e graças ao aumento do saber por meio das traduções, também científico”.[1] Outros eixos desse renascimento cultural incluem i) os humanistas da escola de Chartres como Constantino Africano, Adelardo de Bath, Bernardo de Chartres (1124-1130) entre outros, ii) os monges Bernardo de Claraval (1091-1153) e Hugo de São Vítor (1096-1141) que renovaram os mosteiros cristãos.[2] A catedral de Chartres foi construída no mesmo local antes havia uma igreja que abrigava a túnica sagrada da Virgem Maria , um presente de Carlos o Calvo, que Carlos Magno havia recebido do imperador de Bizâncio no século IX.[3] O bispo Fulbert em 1007, discípulo de Gerbert de Aurillac, o papa Silvestre II, tornou Chartres um grande centro de aprendizagem e foco de peregrinações, refúgio de erudição e conhecimento, onde lecionariam Bernardo de Chartres, o bispo Gilbert de la Porrée / Gilbert de Pointiers, Thierry de Chartres e o bispo John de Salisbury, entre outros. Thierry de Chartres (1100-1150) era chanceler da escola e defendia a tese de que os corpos celestes não eram divinos ou feitos de uma matéria incorruptível, mas pelo contrário, feitos da mesma matéria que as coisas terrenas e sujeitas à mesma ordem. Segundo Thomas Goldstein: “Thierry provavelmente será reconhecido como um dos verdadeiros fundadores da ciência do Ocidente”.[4] Para Stanley Jaki o cristianismo ao defender a ideia de um criador unificador das leis fixas e inteligíveis do universo favoreceu o desenvolvimento da ciência Ocidental nas busca destas leis. O padre Jean Buridan (1300-1358), professor em Sorbonne, contrário a ideia de um mundo eterno, partindo do conceito de criação do universo irá desenvolver a tese de um impulso inicial (teoria do ímpeto) para o movimento dos planetas, dado por Deus, pavimentando as teses de dinâmica de Galileu e de inércia de Newton. O fato de Jean Buridan ter recebido menos atenção em sua época está ligada ao fato de ter sido um padre secular, ou seja, era um clérigo que não estava afiliado a uma Ordem religiosa tal como a maioria dos intelectuais da Idade Média Clássica como a dos Franciscanos e Dominicanos. Segundo Pierre Duhem: “Jean Buridan teve a incrível audácia de dizer: Os movimentos dos céus estão submetidos às mesmas leis dos movimentos das coisas cá de baixo, a causa que mantém as revoluções das esferas celestes é a mesma que mantém a rotação do rebolo do ferreiro; há uma Mecânica única pela qual se regem todas as coisas criadas, a esfera do Sol e o pião que o menino põe em rotação. Jamais houve, talvez, no domínio da ciência física, revolução tão profunda, tão fecunda quanto esta.”[5]

[1] NUNES, Ruy Afonso da Costa. História da educação na idade média, Campinas:Kirion, 2018, p.218

[2] JANOTTI, Aldo. Origens da Universidade, São Paulo: Edusp,1992, p.77

[3] MURPHY, Tim Wallace. O código secreto das catedrais. São Paulo:Pensamento, 2007, p. 166

[4] AQUINO, Felipe. Uma história que não é contada, Lorena: Cleofas, 2008, p. 166

[5] DUHEM, Pierre. Histoire des doctrines cosmologiques de Platon à Aristote, tomo VII, pp. 328-340 



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