Segundo Ruy Afonso:
“do ponto de vista educacional, o renascimento do século XII foi sobretudo
literário e graças ao aumento do saber por meio das traduções, também
científico”.[1] Outros eixos desse renascimento cultural
incluem i) os humanistas da escola de Chartres como Constantino Africano, Adelardo
de Bath, Bernardo de Chartres (1124-1130) entre outros, ii) os monges Bernardo
de Claraval (1091-1153) e Hugo de São Vítor (1096-1141) que renovaram os
mosteiros cristãos.[2] A catedral de Chartres foi
construída no mesmo local antes havia uma igreja que abrigava a túnica sagrada
da Virgem Maria , um presente de Carlos o Calvo, que Carlos Magno havia
recebido do imperador de Bizâncio no século IX.[3] O bispo Fulbert em 1007,
discípulo de Gerbert de Aurillac, o papa Silvestre II, tornou Chartres um
grande centro de aprendizagem e foco de peregrinações, refúgio de erudição e
conhecimento, onde lecionariam Bernardo de Chartres, o bispo Gilbert de la Porrée
/ Gilbert de Pointiers, Thierry de Chartres e o bispo John de Salisbury, entre
outros. Thierry de Chartres (1100-1150) era chanceler da escola e defendia a
tese de que os corpos celestes não eram divinos ou feitos de uma matéria
incorruptível, mas pelo contrário, feitos da mesma matéria que as coisas
terrenas e sujeitas à mesma ordem. Segundo Thomas Goldstein: “Thierry
provavelmente será reconhecido como um dos verdadeiros fundadores da ciência do
Ocidente”.[4] Para Stanley Jaki o cristianismo ao defender a ideia de um criador
unificador das leis fixas e inteligíveis do universo favoreceu o
desenvolvimento da ciência Ocidental nas busca destas leis. O padre Jean
Buridan (1300-1358), professor em Sorbonne, contrário a ideia de um mundo
eterno, partindo do conceito de criação do universo irá desenvolver a tese de
um impulso inicial (teoria do ímpeto) para o movimento dos planetas, dado por
Deus, pavimentando as teses de dinâmica de Galileu e de inércia de Newton. O
fato de Jean Buridan ter recebido menos atenção em sua época está ligada ao
fato de ter sido um padre secular, ou seja, era um clérigo que não estava
afiliado a uma Ordem religiosa tal como a maioria dos intelectuais da Idade
Média Clássica como a dos Franciscanos e Dominicanos. Segundo Pierre Duhem: “Jean
Buridan teve a incrível audácia de dizer: Os movimentos dos céus estão
submetidos às mesmas leis dos movimentos das coisas cá de baixo, a causa que
mantém as revoluções das esferas celestes é a mesma que mantém a rotação do
rebolo do ferreiro; há uma Mecânica única pela qual se regem todas as coisas criadas,
a esfera do Sol e o pião que o menino põe em rotação. Jamais houve, talvez, no
domínio da ciência física, revolução tão profunda, tão fecunda quanto esta.”[5]
[1] NUNES, Ruy Afonso da
Costa. História da educação na idade média, Campinas:Kirion, 2018, p.218
[2] JANOTTI,
Aldo. Origens da Universidade, São Paulo: Edusp,1992, p.77
[3] MURPHY, Tim Wallace. O
código secreto das catedrais. São Paulo:Pensamento, 2007, p. 166
[4] AQUINO,
Felipe. Uma história que não é contada, Lorena: Cleofas, 2008, p. 166
[5] DUHEM, Pierre. Histoire des doctrines cosmologiques de Platon à Aristote, tomo VII, pp. 328-340
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