Para Sérgio Buarque de Holanda: “no caso do açúcar, a mesquinhez da produção prende-se menos à ignorância de uma tecnologia adequada ao seu benefício do que à pouca eficácia das moendas ordinariamente empregadas. E, no entanto, essa pouca eficácia não constitui verdadeiramente uma causa, senão um efeito. A causa estaria nas limitações extrínsecas que se antepõem a qualquer progresso substancial da produção”.[1] Nos engenhos de açúcar segundo Sérgio Buarque de Holanda exceto pela introdução dos tambores verticais em 1608-12 conforme os relatos de Frei Vicente Salvador os quais substituíam com vantagens a moenda de dois tambores horizontais, o panorama das técnicas da lavoura colonial era de estagnação. Esta inovação tecnológica é apontada por Stuart Schwartz como a grande responsável pelo surto de crescimento observado entre 1612 e 1630, particularmente na Paraíba e no Rio de Janeiro que em 1629 segundo relatório de Pedro Cadena de Vilhasanti possuía sessenta engenhos.[2] Os pesados cilindros horizontais faziam com que todo o peso incidisse sobre o cilindro de baixo exigindo muita força para impulsionar o mecanismo.[3] Soares Pereira afirma que os tambores cilíndricos foram uma invenção brasileira, no entanto, há relatos de sua presença nas ilhas Canárias no século XVI[4]. Shozo Motoyama argumenta que a evolução das moendas de rolos verticais para as de rolos horizontais ocorreu sob a pressão oriunda das dificuldades sociais de manter a divisão de trabalho entre senhor e escravo.[5] A fabricação do açúcar não permitia a exportação da cana de açúcar ou garapa, de modo que a cana tão logo cortada tinha de ser moída imediatamente e seu caldo beneficiado, o que exigia a necessidade de engenhos para o beneficiamento na própria colônia, o que diferia da exploração do pau brasil, por exemplo, que podia ser exportado in natura. [6]
[1] HOLANDA, Sérgio Buarque
de. Monções. São Paulo:Brasiliense, 2000, p. 179
[2] SCHWARTZ, Stuart.
Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: Cia
das Letras, 1988, p. 149, 197
[3] SCHWARTZ, Stuart.
Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: Cia
das Letras, 1988, p. 22
[4] SCHWARTZ, Stuart.
Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: Cia
das Letras, 1988, p. 405 nota 4
[5] GAMA, Ruy. Engenho e
tecnologia, São Paulo:Duas Cidades, 1979, p.13
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