Luiz Otávio Ferreira mostra que ao final do século XIX
no Brasil o positivismo foi a matriz ideológica que formava um ethos da intelectualidade
brasileira.[1] Para Caio Prado Júnior: “pode-se dizer
que o positivismo forma o único corpo de ideias mais ou menos completo e
coerente que existiu no Brasil na segunda metade do século passado”.[2] Para
João Camilo Torres o ideal científico se contrapõe ao ideal militar, como já
apontado por Comte (“para Comte reis e
soldados são coisas do estado teológico militar”) e tal união no Brasil
levou ao detrimento da velha tradição militar e a uma dissolução dos ideais
militares e do espírito guerreiro uma vez que o positivismo era claramente
antimilitarista.[3] Para Severino Sombra “as ideias de Comte
exerceram lamentável influência nas classes armadas, concorrendo para uma
paisanização funesta e um revoltante desapego às nossas tradições militares
[...] a secreta incompatibilidade entre os espírito científico e o espírito
militar indicada por Comte viciou horrivelmente o ensino em nossas escolas
militares, arrancando-lhes o caráter essencial dos centros de educação militar,
de formação intelectual e moral para a guerra”. [4] Segundo João Camilo Torres na obra O positivismo no Brasil de 1943: “O positivismo surgiu no Brasil para
preencher uma lacuna, a que fora aberta em nossa cultura pela ausência de uma
filosofia elaborada racionalmente e segundo critérios seguros. Era uma
concepção do universo e dos valores elaborada sistemática e rigorosamente e, ao
mesmo tempo, irrefutável. Ora, nós não possuíamos então nem ao menos uma teoria
do estado exequível, quanto mais uma posição filosófica séria e estável.
Possuindo, além disto, o positivismo um grande e acentuado poder construtivo,
falava muito de perto a tendências futuras da alma brasileira”[5] Sérgio
Buarque de Holanda observa que os historiadores tem superestimado a influência
prática do positivismo nos meios militares [6] “exagerou-se, a nosso ver, a influência do
positivismo no Brasil. Essa influência existiu, sem dúvida, e teve importância
em um momento da nossa história, mas não foi tão poderosa, extensa e decisiva
quanto se acredita [...] maior alcance teve, entre nós, naturalmente, o
positivismo difuso ou um certo cientificismo que foi, aliás, a característica
do espírito do século XIX. O positivismo difuso, com aquele sentido do útil, do
imediato, voltado para a ação, foi o que teve vigência positiva no século XIX.
Correspondendo mais à índole de nosso espírito, deixou a sua marca na nossa
cultura” [7].
De qualquer forma, a partir de 1891 o entusiasmo que o positivismo havia
suscitado na elite intelectual brasileira já havia declinado.[8] João
Torres observa que a direção de ideias positivistas da república durou apenas
de novembro de 1889 a janeiro de 1890 com a saída de Demétrio Ribeiro do
governo.[9] Para Emília Viotti a elite intelectual do
século XIX, incapaz de se aproximar da massa rural atrasada e ignorante assumiu
uma atitude paternalista “em nome do povo”
um conceito vago sem representatividade alguma o que justifica sua adesão aos
esquemas evolucionistas não revolucionários e positivistas considerando tal
ideário o único capaz de fazer frente às oligarquias e levar a cabo a
modernização do país: “seu radicalismo se
esgota num verbalismo pouco eficiente”.[10]
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