sábado, 9 de janeiro de 2021

Ensino dos colégios de jesuítas

 

Segundo o padre Leonel Franca sobre o ensino dos jesuítas o ideal pedagógico era formar alunos para o pleno domínio das artes liberais (humanidades) por meio da língua latina: “O alvo a que mira a formação do Ratio Studiorum – nisto em concordância incontestada com o ideal do século XVI – é a eloquência latina: ad perfectam informat eloquentiam. Levar o aluno a exprimir-se de maneira irrepreensível na linguagem de Cícero é o termo a que se subordinam todas as séries sabiamente graduadas do currículo. A gramática visa à expressão clara e correta; as humanidades, a expressão bela e elegante; a retórica, a expressão enérgica e convincente”.[1] Wilson Martins avalia os resultados da educação tradicionalista dos colégios jesuítas: “Evite-se a novidade de opiniões. Ainda em assuntos que não apresentem perigo algum para a fé e a piedade, ninguém introduza questões novas em matéria de certa importância, nem opiniões não abonadas por nenhum autor idôneo, sem consultar os superiores; nem ensine coisa alguma contra os princípios fundamentais dos doutores e o sentir comum das escolas. Sigam todos de preferência os mestres aprovados e as doutrinas que, pela experiência dos anos, são mais adotadas nas escolas católicas”.[2] Fernando Azevedo indica na cultura brasileira a tendência excessivamente literária, o gosto pela erudição e o desinteresse pelas ciências experimentais que tem suas origens no ensino dos jesuítas no Brasil colônia “a tendência excessivamente literária, o gosto da erudição pela erudição, o pendor ou a resignação fácil às elegâncias superficiais do academismo, o desinteresse pelas ciências experimentais, a indiferença pelas questões técnicas e ainda, o divórcio entre o povo e os criadores intelectuais, na política, na literatura e nas artes [..] uma tendência de discussão do abstrato no abstrato, a confusão do real e do imaginário, o primado das letras sobre a ciência, do ideal sobre o método, do espírito dogmático sobre o espírito crítico e de investigação [...] Toda nossa cultura esta aliás marcada, no seus aspectos mais típicos por essa formação de base puramente literária e de caráter profissional, sob cuja influência, sem o lastro de sólidos estudos científicos e filosóficos, se desenvolveram a tendência ás generalizações brilhantes em prejuízo das especializações fecundas, o gosto da retórica e da erudição livresca, a superficialidade mal dissimulada na pompa verbal, a uniteralidade de visão e o diletantismo que leva o indivíduo a passear por todas as questões e doutrinas sem se aprofundar em nenhuma delas”[3]

[1]FERREIRA, Amarílio; BITTAR, Marisa. Artes liberais e ofícios mecânicos nos colégios jesuíticos do Brasil colonial. Revista Brasileira de Educação v. 17 n. 51 set.-dez. 2012, p.693-751 http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v17n51/12.pdf

[2]MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo: Queiroz Editor, 1992, p.26 In: AQUINO, Fernando, Gilberto, Hiran. Sociedade brasileira: uma história, São Paulo: Record, 2000, p.247

[3]JÚNIOR, Caio Prado. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo:Brasiliense, 1986, p.88, 222



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