Segundo
o padre Leonel Franca sobre o ensino dos jesuítas o ideal pedagógico era formar
alunos para o pleno domínio das artes liberais (humanidades) por meio da língua
latina: “O alvo a que mira a formação do
Ratio Studiorum – nisto em concordância incontestada com o ideal do século XVI
– é a eloquência latina: ad perfectam informat eloquentiam. Levar o aluno a
exprimir-se de maneira irrepreensível na linguagem de Cícero é o termo a que se
subordinam todas as séries sabiamente graduadas do currículo. A gramática visa
à expressão clara e correta; as humanidades, a expressão bela e elegante; a
retórica, a expressão enérgica e convincente”.[1] Wilson Martins avalia os resultados da educação tradicionalista dos colégios
jesuítas: “Evite-se a novidade de opiniões. Ainda em assuntos que não apresentem
perigo algum para a fé e a piedade, ninguém introduza questões novas em matéria
de certa importância, nem opiniões não abonadas por nenhum autor idôneo, sem
consultar os superiores; nem ensine coisa alguma contra os princípios
fundamentais dos doutores e o sentir comum das escolas. Sigam todos de
preferência os mestres aprovados e as doutrinas que, pela experiência dos anos,
são mais adotadas nas escolas católicas”.[2]
Fernando Azevedo indica na cultura brasileira a tendência excessivamente
literária, o gosto pela erudição e o desinteresse pelas ciências experimentais
que tem suas origens no ensino dos jesuítas no Brasil colônia “a tendência
excessivamente literária, o gosto da erudição pela erudição, o pendor ou a
resignação fácil às elegâncias superficiais do academismo, o desinteresse pelas
ciências experimentais, a indiferença pelas questões técnicas e ainda, o
divórcio entre o povo e os criadores intelectuais, na política, na literatura e
nas artes [..] uma tendência de discussão do abstrato no abstrato, a confusão
do real e do imaginário, o primado das letras sobre a ciência, do ideal sobre o
método, do espírito dogmático sobre o espírito crítico e de investigação [...]
Toda nossa cultura esta aliás marcada, no seus aspectos mais típicos por essa
formação de base puramente literária e de caráter profissional, sob cuja
influência, sem o lastro de sólidos estudos científicos e filosóficos, se
desenvolveram a tendência ás generalizações brilhantes em prejuízo das
especializações fecundas, o gosto da retórica e da erudição livresca, a
superficialidade mal dissimulada na pompa verbal, a uniteralidade de visão e o
diletantismo que leva o indivíduo a passear por todas as questões e doutrinas
sem se aprofundar em nenhuma delas”[3]
[1]FERREIRA, Amarílio;
BITTAR, Marisa. Artes liberais e ofícios mecânicos nos colégios jesuíticos do
Brasil colonial. Revista Brasileira de Educação v. 17 n. 51 set.-dez. 2012,
p.693-751 http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v17n51/12.pdf
[2]MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São
Paulo: Queiroz Editor, 1992, p.26 In: AQUINO, Fernando, Gilberto, Hiran.
Sociedade brasileira: uma história, São Paulo: Record, 2000, p.247
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