terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Aerópago de Itambé

 

Em 1796 o padre botânico Manuel Arruda da Câmara formado em medicina em Montpellier e com passagem filosofia e ciências naturais na Universidade de Coimbra fundou o Aerópago de Itambé em Recife em Pernambuco [1] considerada a pioneira das lojas maçônicas no Brasil [2]. Segundo Mario Mello em Maçonaria no Brasil publicado em 1909, em 14 de julho de 1797 (data de aniversário da tomada ada Bastilha) foi fundada a Loja Cavaleiros da Luz na Bahia [3] depois “Virtude e razão” [4].  O Aerópago de Itambé teria influência direta na revolução de 1817 [5]. Dois dos maçons participantes do movimento foram os ingleses Ratcliff e Charles Bowen [6].Embora com ideário iluminista francês não existem evidências de ligações do Aerópago com a Maçonaria.[7] Embora historiadores como Oliveira Lima tenham considerado o Aerópago de Itambé como sociedade maçônica, Amaro Quintas considera esses núcleos secretos por seu caráter político pró independência e não por qualquer vínculo a maçonaria [8]. José Bonifácio fundou a loja maçônica O apostolado em 1822 tornando-se grão mestre enquanto D. Pedro I recebeu o título de Arconte Rei. [9] Nestas sociedades o segredo era regra comum e fundamental: “manter o segredo não era fundamental apenas para garantir a sobrevivência da sociedade maçônica, mas era na verdade um meio de educação moral”. Na Bahia Cipriano Barata, estudante da Universidade de Coimbra e Marcelino de Souza foram denunciados à Inquisição de Lisboa em 1798 por questionarem doutrinas da Igreja, mais tarde dando origem ao movimento da Conjuração Baiana. O historiador Joaquim Felício dos Santos (1822-1895) mostra que quase todos os conjurados na Bahia eram pedreiros livres. Aquino observa, contudo, que a loja Maçônica Cavaleiros da Luz não era frequentada pelos soldados, artesãos e elementos das camadas populares.[10] Dentre os 33 presos processados haviam 11 escravos, cinco alfaiates, seis soldados, três oficiais, dois ourives, um pedreiro, um professor, um carpinteiro, um bordador, um negociante e um cirurgião.[11] Também encontravam-se entre os conspiradores membros das camadas mais humildes como alfaiates, sapateiros, pedreiros, cabeleireiros, soldados, gravadores, carapinas, ambulantes [12]. Augusto de Lima Júnior em História da Inconfidência Mineira constata a existência de lojas maçônicas em funcionamento na Bahia, Rio de Janeiro e Minas Gerais no final do século XVIII e este teria sido um dos pontos de aproximação do movimento mineiro com Thomas Jefferson em apoio a causa dos inconfidentes. A primeira loja maçônica regular a funcionar no Brasil foi a Loja Reunião fundada em 1801 em Praia Grande em Niteroi.[13] Kenneth Maxwell destaca que embora figuras influentes como Hipólito da Costa fossem maçons há poucas provas de que os membros da inconfidência mineira estavam envolvidos com maçonaria.[14]

[1]GOMES, Laurentino. 1822, Rio de Janeiro:Globo Livros, 2015, p.240; SODRÉ, Nelson Werneck. A história da imprensa no Brasil, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, p. 18

[2] SILVA, Hailton Meira da. Cultura Geral maçônica, Rio de Janeiro:Menthor, 2009, p.272

[3] GARCIA, Paulo. Cipriano Barata ou liberdade acima de tudo, Rio de Janeiro: TopBooks, 1997, p.178

[4] CALMON, Pedro. História da civilização brasileira, São Paulo: Cia Editora Nacional, 1933, p.156

[5] MICELI, Paulo. O mito do heroi nacional, São Paulo:Contexto, 1988, p.68; SOUTHEY, Robert. História do Brasil, Brasília: Melhoramentos, 1977, v.3, p. 430

[6] FIORE, Elizabeth. Presença britânica no Brasil (1808-1914). São Paulo:Pau Brasil, 1987, p. 61

[7] GONTIJO, Silvana. O mundo em comunicação, Rio de Janeiro:Aeroplano, 2001, p.161

[8] QUINTAS, Amaro. In: História Geral da Civilização brasileira, tomo II: O Brasil Monárquico, vol I O processo de emancipação, BUARQUE DE HOLANDA, Sérgio, São Paulo:Difel, p.208-209; AQUINO, Fernando, Gilberto, HIran. Sociedade brasileira: uma história, São Paulo: Record, 2000, p.370

[9] AQUINO, Fernando, Gilberto, HIran. Sociedade brasileira: uma história, São Paulo: Record, 2000, p.409

[10] AQUINO, Fernando, Gilberto, HIran. Sociedade brasileira: uma história, São Paulo: Record, 2000, p.360

[11] AQUINO, Fernando, Gilberto, HIran. Sociedade brasileira: uma história, São Paulo: Record, 2000, p.359

[12] COSTA, Emília Viotti. Da monarquia à República: momentos decisivos, São Paulo:Brasiliense, 1987, p.32, 123; SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: Cia das Letras, 1988, p. 383

[13] SILVA, Hailton Meira da. Cultura Geral maçônica, Rio de Janeiro:Menthor, 2009, p.277

[14] MAXWELL, Kenneth. A devassa da devassa, Rio de Janeiro:Paz e Terra, ,1985, p. 232



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Doação de Constantino

  Marc Bloch observa a ocorrência de falsificações piedosas tais como a pseudo doação de Constantino ( Constitutum Donatio Constantini ) ao ...