Uma
carta do primeiro vice rei Francisco de Almeida enviada a D. Manuel mostra os
interesses portugueses na quebra do monopólio de especiarias de Veneza: “Toda a nossa força seja no mar. Desistamos
de nos apropriar da terra. As tradições antigas de conquista, o império sobre
reinos tão distantes não convém [...] Com as nossas esquadras teremos seguro o
mar e protegidos os indígenas em cujo nome reinaremos de fato sobre a Índia; e se o que queremos
são os produtos dela, o nosso império marítimo assegurará o monopólio português
contra o turco e o veneziano”. [1] O relato de Vasco da Gama deixa claro que seu interesse na Índia era
fundamentalmente pela busca de especiarias: pois seu objetivo era o de “meramente para fazer descobertas. O rei
perguntou-lhe então o que fora descobrir: pedras ou homens ? Se fora para
descobrir homens, porque não trouxera nada ?”. O samorim se queixa diante de Vasco da Gama
que se seu interesse era de homens então teria de ter trazido alguns presentes.
Perguntado por dois tunisianos que falavam espanhol, ao chegar e Calicute: “que
diabos é que os trouxe aqui ?”, Vasco da Gama respondeu: “Viemos procurar
cristãos e especiarias”.[2] De Calicute Vasco da Gama partiu em 1498 “com
grande regozijo pela nossa sorte em termos feito tão grande descoberta [...]
pois já tínhamos achado e descoberto o que vínhamos buscar assim de especiarias
como de pedras preciosas”. Em 1502 ao partir novamente para Índia ao chegar
ao largo de Calicute em 30 de outubro exigiu ao samorim que se rendesse e que
expulsasse da cidade todos os muçulmanos. Diante da contemporização do samorim
Vasco da Gama para demonstrar que não estava para brincadeiras, mandou capturar
no porto um certo número de pescadores e negociantes enforcando-os,
esquartejando seus corpos e colocando suas mãos, pés e cabeças num cesto enviado
à terra junto com uma mensagem para que o samorim usasse tais corpos para fazer
caril, uma espécie de tintura de tecidos, o que mostra que seus ideais estavam
muito longe de objetivos religiosos.[3] Segundo H. Plumb “E os filhos de Cristo seguiam esta senda de sangue,
construindo as suas igrejas, missões e seminários, porque, afinal, a rapina era
uma cruzada: por muito grande que fosse a recompensa de Vasco da Gama, de
Albuquerque, de Pacheco e dos outros neste mundo, a sua glória seria ainda maior
no outro mundo”.[4] Charles Boxer destaca que a busca pelo ouro foi um fator importante na
continuação pelas viagens ao longo da costa africana especialmente após 1442 e
lista como principais motivos a motivar o início dos descobrimentos: (i) um
zelo de cruzada contra os muçulmanos, (ii) o desejo de se apoderar do ouro de
Guiné, (iii) a questão da busca do reino do mítico Preste João e (iv) a procura
das especiarias orientais.[5] O padre espanhol Bartolomeu de Las Casas critica o comércio de escravos que
acompanhou a saga portuguesa no comércio com a Africa no século XVI sob a
justificativa de promover a fé cristã: “é
de maravilhar a forma como os historiadores portugueses glorificam e chamam de
ilustres esses feitos tão vis e representam a exploração como um grande
sacrifício a serviço de Deus”.[6]
[1]CAMINHA. João Carlos.
História marítima. Rio de Janeiro: Bibliex, 1980, p. 60
[2]BOXER, Charles. O império colonial português (1415-1825). Lisboa:Edições 70, 1960,
p. 58
[3]BOORSTIN, Daniel. Os descobridores, Rio
de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.171, 183
[4]BOXER, Charles. O império colonial português (1415-1825). Lisboa:Edições 70, 1960,
p. 20
[5]BOXER, Charles. O império colonial português (1415-1825). Lisboa:Edições 70, 1960,
p. 50
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