O embaixador da Nigéria, Alberto da Costa e Silva
mostra que muitos muçulmanos ex escravos vindos da Bahia se destacaram devido a
habilidade nos ofícios adquiridos no Brasil. A mesquita Central em Lagos na
Nigéria, demolida há alguns anos [1], foi
iniciada pelo brasileiro mestre de obras João Baptista da Costa e concluída por
seu discípulo sarô Sanusi Aka [2]. Em
Porto Novo em Benin há uma mesquita com estilo de igreja católica brasileira
construída por pedreiros, marceneiros e mestres de obras do século XIX. Gilberto
Freyre qualificou estes ex escravos como pioneiros do capitalismo na África.[3] As
habilidades de negros em metalurgia e como artesãos expostas por Gilberto
Freyre contraria a crença de que os escravos não eram capazes de adquirir
habilidades mais elevadas [4]. Juliana
Ribeiro destaca a associação do domínio do ferro e o poder político na África
central de onde vinham os escravos: “é fato que alguns sobas controlavam
minas de ferro e o trabalho de ferreiros, tanto que muitas regiões da África
central passaram a ser povoadas por causa da existência dessas minas. Afinal,
controlar uma mina significava agregar pessoas, não só os súditos em si, mas também
povos que não sabiam trabalhar o ferro. E é preciso lembrar que a ideia de poder
na África central não está associada a extensão do território dominado e sim à
quantidade de pessoas submetidas à figura do chefe. Assim, fica clara a
associação entre o ferro e a legitimação do poder”. [5] No quilombo dos Palmares há o registro de
ferreiros artesãos conforme relatório de viagem do capitão João Blaer aos
Palmares em 1645 [6].
A expedição holandesa de 1645 ao quilombo encontrou quatro forjas [7], usadas
na fabricação de facões, além de pontas de flechas e lanças. O governador de
Pernambuco Fernão de Sousa Coutinho em depoimento de 1671 revela que os negros
rebelados já possuíam “tendas de ferreiro
e outras oficinas, com que poderão fazer armas, pois usam de algumas de fogo
que de cá levam, e este sertão é tão fértil de metais e salitre que tudo lhes
oferece para a sua defesa, se lhes faltar a indústria eu também se pode temer
dos muitos que fogem, já práticos em todas as mecânicas”.[8]
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