sexta-feira, 10 de julho de 2020

Oráculo de Delfos

As declarações do oráculo de Delfos eram ambíguas e enigmáticas.[1]Jardé destaca que Delfos era comumente consultada antes da partida dos exércitos conquistadores para decidir a rota a ser seguida e o momento oportuno para partida.[2]O consulente devia se preparar durante muitos dias purificando-se as águas da fonte Castalia e sacrificando alguns animais enquanto a pitonisa devia jejuar por três dias. No dia marcado numa galeria construída sobre o abismo e sentada em um trípode de bronze colocado perto do local que exalava emanações narcóticas era feita a consulta[3]. A sacerdotisa mastigava folhas de louro, a árvore de Apolo, e bebia água da fonte Cassótis, de modo a entrar em um transe profético. Decisivo foi o papel de Delfos na mobilização dos gregos contra os persas. As grandes decisões dos espartanos eram tomadas após a consulta aos oráculos, tais como a decisão de Leonidas de ir a Termopilas[4]. Segundo Heródoto, Creso, o último rei da Lídia, então em guerra com Ciro da Pérsia, consultou em 546 a.c. o Oráculo de Delfos que respondeu ambiguamente: “Um grande reino irá cair...” caso Creso viesse a atravessar o rio Hális que fazia a fronteira entre a Lídia e a Pérsia.[5] Humphrey Kitto supõe que a resposta ambígua do Oráculo tinha como objetivo envolver Creso e Ciro em uma longa batalha. A primeira batalha havia sido suspensa pela ocorrência de um eclipse previsto por Tales de Mileto.[6] Juliano o Apóstata em 361 enviou emissário para consultar a pitonisa de Delfos, numa época em que o santuário estava decadência e obteve como resposta: “Ide dizer ao rei que os bons tempos acabaram. Que Apolo não tem mais nem teto nem louro ocular. E que a água da fonte chireante secou[7]. Quando os colonizadores da Eubeia fundaram Régio no sul da Itália, consultaram o oráculo que disse que a cidade teria de ser fundada onde o homem se casa com a mulher. Jardé observa que o oráculo de Delfos tivera o culto de Apolo inspirado de Creta, porém outros autores entendem que este culto já existia na Grécia desde a era micênica e teria sua origem nórdica ou asiática.[8]Conforme a tradição o oráculo de Delfos era regularmente consultado para a fundação de novas colônias ainda provas arqueológicas indiquem que sua importância no século VIII a.c. ainda fosse local. No século seguinte passou a assumir um papel pan helênico de maior prestígio a ponto de alguns requerentes buscarem o oráculo para garabtir a aprovação retroativa de cidades já fundadas.[9]
[1] GORMAN, Peter. Pitágoras, uma vida, São Paulo:Círculo do Livro, 1993, p. 92
[2] JARDÉ, A. A Grécia antiga e a vida grega, São Paulo:Epusp, 1977, p.5
[3] ONCKEN, Guilhermo. História Universal – História de Grécia e Roma, Francisco Alves:Rio de Janeiro, v.IV, p.63
[4] HALL, Edith. The ancient greeks, London:Vintage, 2015, p.177
[5] SALVAT. Maravilhas do mundo, v. 3, Rio de Janeiro: Salvat, 1985, p.134; BOWRA, Maurice. Grécia Clássica, Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1969, p. 77
[6] KITTO, Humphrey Davey Findley. Os gregos. Coimbra:Armenio Amado, 1970, p. 182
[7] EYDOUX, Henri Paul. Á procura dos mundos perdidos, São Paulo:Melhoramentos, 1967, p. 152
[8] JARDÉ, A. A Grécia antiga e a vida grega, São Paulo:Epusp, 1977, p.157
[9]FINLEY, Moses. Los griegos de la antiguedad. Barcelona: Editorial Labor, 1966, p. 53

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