quinta-feira, 2 de julho de 2020

O pedagogo grego

Rebaixada a uma atividade vulgar, mal remunerada e sem a fiscalização do Estado Romano a atividade do ensino era muitas vezes reservada aos escravos, especialmente após a conquista da Grécia pelos romanos, quando vieram como escravos indivíduos bastante instruídos.[1] O escravo grego, quase sempre estrangeiro[2], conhecido como pedagogus / paidagogós[3], comprado por alto preço[4], era principalmente mentor em assuntos de etiqueta e boas maneiras.[5] Jerome Carcopino observa que o fato de entregar a um escravo ou na hipótese mais favorável a libertos, o encargo da educação produzia consequências desastrosas. Não raras vezes o jovem adolescente de família abstada humilhava seu professor como mostra o poeta Plauto (250-184 a.c.)[6] em Bacchides quando o preceptor repreende as extravagâncias do jovem Pistocelo, este responde de forma abusada: “afinal eu sou seu escravo ou és tu o meu ?”. Noutra cena da comédia de Plauto o jovem agride ao escravo pedagogo.[7] A educação romana era fundamentada no conceito de mos maiorum (o costume dos antepassados). A profissão era notoriamente desacreditada e mesmo sob o Império alguns como Plínio o Moço (Pan, 51) o consideravam como o refugo da sociedade. Segundo Jerome Carcopino “a escola primária romana podia estragar a juventude que supostamente instruía, e em troca era bem raro que lhe fizesse sentir a beleza do conhecimento”.[8] A figura mostra pintura em vaso grego assinada pelo artista ateniense Douris do século V a.c. que representa o interior de uma escola e à direita o escravo pedagogo acompanhante das crianças[9]
[1] AZEVEDO, Fernando. No tempo de Petrônio, São Paulo:Melhoramentos, 1924, p.132, 188
[2] BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação, Rio de Janeiro: Brasiliense, 1981, p. 42
[3] JARDÉ, A. A Grécia antiga e a vida grega, São Paulo:Epusp, 1977, p.210
[4] CARCOPINO, Jerome. A vida quotidiana em Roma, Lisboa:Livros do Brasil, 1938, p.134
[5] HADAS, Moses. Roma Imperial, Biblioteca de História Universal Life, Rio de Janeiro: José Olympio, 1969, p. 88; MARROU, H. Educação e retórica In: FINLEY, Moses. O legado da Grécia, Brasília:UNB, 1998, p. 216
[6] GIORDANI, Mario Curtis. História de Roma, Rio de Janeiro:Vozes, 1981, p. 234
[7] GIORDANI, Mario Curtis. História de Roma, Rio de Janeiro:Vozes, 1981, p. 173
[8] CARCOPINO, Jerome. A vida quotidiana em Roma, Lisboa:Livros do Brasil, 1938, p.136
[9] ISAAC, J.; WEILER, A. História Universal,Oriente e Grécia, São Paulo: Martins Fontes, 1964, p. 199

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