quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Ouro do Brasil

 Os dados obtidos nos estudos de Rae Jean Dell Flory, Stuart Schwartz, João Fragoso, Manolo Florentino e Jorge Caldeira realizados após 1970 mostra que ao longo de todo o século XVIII apesar de transferir enormes somas à metrópole (a carga tributária da colônia aumentou enquanto a da metrópole diminuiu) o desempenho da economia colonial superou ao da economia da metrópole, diferença que se acentuou ainda mais com o fim do ciclo do ouro quando a economia colonial estava em franco crescimento e a da metrópole em declínio.[1] Do ponto de vista fiscal o Brasil transformara-se no que D. João IV definiu como “a vaca leiteira do Reino”[2]. Durante o ciclo do ouro Portugal aplicava enormes quantidade de recursos em palácios como os de Mafra (na figura), com construção iniciada em 1716 no reinado de D. João V e que consumiu 140 toneladas de ouro ou vinte anos de arrecadação do quinto do ouro no Brasil.[3] Roberto Simonsen mostra dados de Humboldt que indicam que na Europa do século XVIII mais de 9/10 dos metais preciosos que afluíam aos mercados provinham das colônias da América. Entre 1493 e 1803 a América espanhola contribui com cerca de um bilhão de libras de produção de ouro ao passo que a do Brasil cerca de 200 milhões [4] e que a circulação amoedada na Europa do século XVI não devia ser superior a 50 milhões de libras, o que mostra a dimensão do impacto que a produção de ouro e prata das colônias americanas provocou na economia europeia forçando a elevação dos preços e criando um padrão de vida elevadíssimo em Portugal e Espanha em desacordo com as possibilidades de sua lavoura e indústria.[5] Sobart destaca que o ouro brasileiro permitiu uma nova etapa do capitalismo: “Sem a descoberta (acidental!) das jazidas de metais precisos  sobre a altura das Cordilheiras e nos vales do Brasil, não teríamos o homem econômico moderno”. [6]



[1]CALDEIRA, Jorge. História da Riqueza no Brasil, Rio de Janeiro:Estação Brasil, 2017, p.148

[2]CALDEIRA, Jorge. História da Riqueza no Brasil, Rio de Janeiro:Estação Brasil, 2017, p.103; CALDEIRA, Jorge. História do Brasil, São Paulo:Cia das Letras, 1997, p.59

[3]CALDEIRA, Jorge. História da Riqueza no Brasil, Rio de Janeiro:Estação Brasil, 2017, p.143; CALDEIRA, Jorge. História do Brasil, São Paulo:Cia das Letras, 1997, p.91

[4]SIMONSEN, Roberto. História Econômica do Brasil, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1962, p.284

[5]SIMONSEN, Roberto. História Econômica do Brasil, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1962, p.252

[6]SIMONSEN, Roberto. História Econômica do Brasil, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1962, p.268




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