sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Giordano Bruno e a infinitude dos mundos

 

Giordano Bruno, define o conceito de infinitude do mundo, isto é, a infinitude no sentido da existência de mundos infinitos, semelhantes ao nosso planeta. Outros planetas habitáveis deverão existir. Se a causa ou Princípio primeiro é infinito, também o efeito deve sê-lo. Em De l´infinito, universo e mundi de 1584 Bruno apresenta sua concepção de universo infinito e dos incontáveis mundos existentes. Joe Shackelford após analisar o documento sumário do julgamento de Bruno perante a Inquisição Romana conclui que ele foi queimado vivo por insistir em suas herersias entre as quais o ensino sobre a pluralidade dos mundos.[1] Para Frances Yates “o salto para cima que Bruno deu, através das esferas, para chegar num universo infinito, embora deva ser interpretado como a experiência de um mago gnóstico, foi ao mesmo tempo um exercício de imaginação especulativa que pressagiou o advento de novas concepções do mundo [...] mesmo as obras mais estranhas e formidavelmente obscuras de Bruno, que tratam da sua arte mágica da memória, podem ser pressagiadoras, no plano hermético, dos esforços feitos no século XVII para se chegar a um método”.[2] Para Giordano Bruno o copernicanismo abre uma nova concepção de mundo: “Esta é uma filosofia que abre os sentidos, satisfaz o espírito, exalta a inteligência e conduz o homem à verdadeira felicidade, que se pode alcançar como ser humano”.[3] O conceito de infinito, contudo, já havia sido afirmado claramente pelo cardeal católico e humanista Nicolau de Cusa (1401-1464): “O universo tem o seu centro em todos os lugares e o seu limite em lugar nenhum”. Para George Sarton, Nicolau de Cusa “é um excelente símbolo da transição entre a idade média e a nova era”.[4] Para Frances Yates a magia da Renascença promoveu transformações fundamentais no modo de pensar do homem:[5] “Giordano Bruno é o resultado direto e lógico da glorificação renascentista do Homem como o grande Milagre, divino pela sua origem, capaz de voltar a ser divino e com poderes divinos residentes e si. Ele é, em suma, um produto do hermetismo renascentista”.[6]  Em Eroici furori Giordano Bruno destaca que o divino espírito pode entrar numa pessoa ignorante tornando-a inspirada, sem que ela compreenda tal inspiração como também pode estar presente nos grandes artífices: “os primeiros são dignos, como o asno que carrega os sacramentos; e os segundo são como a coisa sagrada, divinos”.[7] Em seu hermetismo Bruno destacava que a Verdade pode ser alcançada sem o recurso à experiência: “pode-se ver melhor fechando os olhos à espécie representada do que abrindo-os, e, portanto a teologia negativa de Pitágoras e de Dionísio é mais célebre do que a teologia demonstrativa de Aristóteles e dos doutores escolásticos” o quais Bruno pode questionar diretamente quando na Universidade de Oxford.[8] Em De imaginum compositione Giordano Bruno expõe sua teoria da imaginação e não a experimentação como o principal instrumento do processo mágico e religioso.[9]

[1]SHACKELFORD, Jole. Mito 7: que Giordano Bruno foi o primeiro mártir da ciência. In: NUMBERS, Ronald. Terra plana, Galileu na prisão e outros mitos sobre a ciência e religião, Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2020, p. 99

[2]GILLISPIE, Charles. Dicionário de biografias científicas, Rio de Janeiro:Contraponto, 2007, v.I, p.372

[4]SARTON, George. Six wings, men of science in the Renaissance, Bloomington: Indiana University Press, 1957, p. 15

[5]YATES, Frances. Giordano Bruno e a tradição hermética, São Paulo:Cultrix, 1995, p. 179

[6]YATES, Frances. Giordano Bruno e a tradição hermética, São Paulo:Cultrix, 1995, p. 296

[7]YATES, Frances. Giordano Bruno e a tradição hermética, São Paulo:Cultrix, 1995, p.313

[8]YATES, Frances. Giordano Bruno e a tradição hermética, São Paulo:Cultrix, 1995, p.317

[9]YATES, Frances. Giordano Bruno e a tradição hermética, São Paulo:Cultrix, 1995, p.374



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